Despedida

Há canções inesquecíveis, como Lencinho Querido, um tango interpretado lindamente por Dalva de Oliveira. A canção fala de uma partida onde a despedida não aconteceu. Nesta canção que ouvia, Ela, para proteger-se, passou a preparar o coração para as despedidas. Às vezes, um até breve; outras, um tempo indefinido; muitas, “quando o corpo morre e o espírito retoma a vida eterna”. (Livro dos Espíritos, questão 153)

Ainda pequena, compreendia cada palavra da canção, assim como a dor sentida quando alguém se faz ausente. Na inocência da idade, decidiu que jamais, em qualquer circunstância, deixaria de se despedir daqueles com quem convivia. Tempos depois, deparou-se com a despedida mais difícil, a que julgava derradeira! Negou-se veementemente a despedir-se. Amava muito o pai, como viveria sem a sua presença? E a canção ecoava insistentemente no ouvido: …que depois partiste para nunca mais voltar!

Chorou muito aquela ausência. No sofrimento, voltou-se para Deus e orou. O coração doía ao lembrar que a despedida não acontecera. Não o queria longe, por isso negou o adeus! Acreditava que assim o impediria de ir. Mas Deus o chamou, era a sua hora! Buscou auxílio nos ensinamentos de Jesus e compreendeu que a ausência era unicamente física. No coração, ali permanecia.

Persistiu na prece e no estudo do Evangelho. Foi então que um dia, adormeceu e, em sonho, encontrou-se com o pai. Parecia real! Não seria? E nesse sonho, a despedida aconteceu. E uma paz mesclada com alegria e liberdade a envolveram. Um novo ciclo iniciava. Novos caminhos, muito aprendizado: “A vida do espírito é que é eterna; a do corpo é transitória e passageira.” (Livro dos Espíritos, questão 153)

A dor nos faz orar e nos conduz ao encontro dos ensinamentos de Jesus. Ela buscou respostas; nas respostas, o entendimento; no entendimento, a compreensão; na compreensão, a vivência do amor e a fé; na fé, a certeza da imortalidade do espírito e nele, que a verdadeira vida não está na Terra, mas no Reino dos céus.

E a canção? Ecoava ainda no pensamento, fortificando em si o quanto é valiosa e significativa, uma despedida. Mas também que o “nunca mais” não existe.

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