Não é só o que se lê ou que se aprende. É mais o como se lê e o que se apreende. É o que se percebe do entrelaçamento de tudo. A vida é como uma aranha tecendo sua teia. Ela joga com os pontos fixos: uma folha, um galho, mais um galho de outro arbusto, mais uma parede. E os une com os fios que constroem sua relação com o mundo e promove sua sobrevivência.
A forma como vemos o mundo, além de nos fazer sobreviver, decide o “como” vamos sobreviver. Em muito, é uma decisão pessoal. Se vamos precisar dos demais, e vamos, é uma coisa. Mas a nossa parte é uma e única.
Viajei nestes breves pensamentos ao ler que um deputado ruralista de Santa Catarina, Valdir Colatto, PMDB, fez um projeto que legaliza a caça de animais silvestres, como onça pintada, papagaios, bicho preguiça, uma série de macacos, tamanduás, capivaras, lobos guará, antas, jacarés, botos cinza e cor de rosa, dentre outros.
Apesar de todo um mundo girando ao redor da preservação do pouco que resta de único no mundo, sempre há quem não se interesse por isso. E nessa postura, de não estar nem aí para a como as teias do mundo se fixam, sempre há quem dê um passo para trás, para desconstruir o avanço edificado.
E a pergunta que não quer calar: pra que caçar?
Muitas pessoas precisam de alguém que seja a encarnação do seu imaginário. Se ele for psicótico, conservador, inseguro em relação à morte ou ao futuro, pronto: você tem um caldo de cultura para promover o medo, o racismo, a xenofobia, como se estas variáveis humanas fossem causas do seu fracasso. A onda conservadora no mundo tem um sentido lógico. A lógica do medo e da insegurança em relação à própria existência.
Sabemos todos que as questões culturais demoram décadas, às vezes séculos para mudar. E depois de todos os passos andados, sempre há o perigo de as ideias antidemocráticas voltarem.
Demorou para que os negros fossem considerados cidadãos livres; demorou para mulher ter direito ao voto; demorou para que os pobres brasileiros tivessem acesso à universidade; que as famílias tivessem como adquirir a casa própria de uma maneira menos capitalista.
Governos que usam os impostos para gerar mais dignidade para todos são poucos. E agora, bem menos, como temos observado.
Fora deste quadro louco e pirado, temos outras leituras a apreender. Ortega Y Gasset, filósofo espanhol, tem um livro lindo chamado “Estudos sobre o amor”, onde ele aborda a construção do amor pela vontade feminina. Ou seja, a mulher, através dos séculos, construiu o homem que ela quis. Ela não queria um macho arrogante, caçador, destrutivo. Ela queria um homem gentil, amoroso e parceiro. Para isso, foi construindo e escolhendo. E os homens se adaptando, lentamente, mas cada vez mais.
E esse novo homem, com sua nova forma de se relacionar exigida pelas mulheres, tem construído uma nova sociedade. Apreendemos desta nova leitura da vida que não há cor, opção sexual, origem ou fortuna que nos faça diferentes diante da vida ou diante da morte.
Mas o velho e mau humano está voltando. É normal demorarmos em realizar mudanças culturais. Mas quando alguém puxa pra trás fica ainda mais difícil.
Falta-nos aprender sobre as teias que tudo ligam. A natureza também escreve. E nossa postura diante dos passarinhos que cantam em nosso jardim também mostra o que queremos para a sociedade.