Antoine de Lavoisier, químico francês, aquele do “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, perdeu a cabeça pela guilhotina em 1794. A Revolução Francesa não perdoou o fato de ele trabalhar para uma empresa que arrecadava impostos. Ter criado o melhor laboratório da Europa à época e feito descobertas fundamentais para a química não valeram de nada. Para os vencedores, ele estava do lado errado da revolução.
Os “revolucionários” do golpe brasileiro também estão atrás de cabeças. Uma em especial. Aquela que pode reverter o golpe pelas urnas em 2018. E por una cabeza, estão fazendo das tripas coração. A guilhotina moderna é outra: difamação constante nas mídias, nas redes sociais, apelo ao ódio e uma Justiça seletiva e apegada a boatos e acusações sem provas.
Lula passou de herói nacional, de político que deu poder de compra às classes menos favorecidas, que tirou milhões de pessoas da linha da pobreza, a um mero ladrão de um triplex. O êxito desta guilhotina ainda não se pode medir de todo. Apesar de muitas pessoas que foram beneficiadas por suas políticas destilarem seu ódio contra ele nas redes sociais, as pesquisas ainda o deixam respirar.
Mas, se é verdade que não há provas de que Lula tenha amealhado riqueza e vantagens pessoais enquanto presidente, há fartas verdades de que muitos de seus mais próximos amigos o fizeram às farras. E a nação não quer perdoar um líder que permitiu que seus mais próximos companheiros roubassem ou deixassem roubar como foi feito. Se não pagar por um crime seu, Lula acabará pagando pelos crimes de uma vasta horda de Judas que o cercou e aos quais delegou poder.
Sempre se soube que, para a esquerda sobreviver no poder e fazer de sua política uma cultura, seriam precisos vários anos. E que manter-se vários anos no poder e solidificar um projeto democrático e popular exigiria nunca sucumbir às práticas dos adversários. O PT não teve forças. O dinheiro fácil revelou índoles fracas, personalidades frágeis e demonstrou que o encantamento do poder pode demolir a história pessoal de qualquer um. Ao agir como os partidos tradicionais, o PT atolou-se na mesma lama que sempre condenou e tudo de bom que fez vai evaporar, por sua própria culpa. O PT deu de presente aos inimigos os argumentos e as armas para ser abatido.
De qualquer forma, o juiz Sérgio Moro não conseguiu guilhotinar Lula no último depoimento. Não desta vez. A História mostra que estar do lado certo da História, no lado certo da humanidade, nem sempre basta. Para não perder a cabeça, é preciso estar ao lado dos vencedores.
O tango Por una cabeza não tem nada a ver com esta crônica. Ou tem, se o fato do cavalo de corrida que justo na chegada desiste de correr revelar um símbolo para tudo isto. A política é o campo farto dos amores bandidos. Carlos Gardel sabia das coisas. E disse: “Não esqueça, irmão, não há que jogar, por uma cabeça, desejo de um dia daquela charmosa e risonha mulher que, ao jurar sorrindo o amor que está mentindo, queima na fogueira todo o meu querer”.