Pela luz dos olhos teus

Tu viste? As coisas, enfim, nunca ficam como estão. E que bom isso, né? Quando Heinrich Herz demonstrou a existência das ondas de rádio, lá naquele glorioso final do século XIX , século que semeou tantas mudanças no mundo, ele acreditou, como disse aos seus alunos, que sua descoberta não servia para nada. Vã previsão! O mundo nunca mais foi o mesmo.
E agora, passados 130 anos, um novo salto está prestes a ser dado. É a Li-Fi, a transmissão de dados através da luz visível. A luz que nos ilumina pode ser usada para transmitir informações. E, ao contrário do que prega o Eclesiastes, parece haver todo dia algo novo sob o sol.
Quando a luz dos olhos teus começou a me dizer coisas, também nunca mais fui o mesmo.
Antes, eu escutava mais o escuro, que também diz muito. Tinha até um bordão: o perdão perdeu! Mas então foi quase um tropeço, uma topada num sopro de fótons, que a luz dos olhos teus sussurrou o que pensei ser meu nome. E foi me dizendo mais. Coisas difusas, no sem nexo da vida. Era preciso decodificar. Levei um certo tempo. Então, pela luz dos olhos teus, comecei a conhecer outro mundo, um outro eu que tu vias e gostavas; a realidade escondida que só outros olhos veem e podem contar.
A luz dos olhos teus foi o primeiro arco-íris que tinha um pote de ouro no seu final. Em cada uma das sete cores, uma história. Em cada espectro de luz decomposta, um cheiro, uma carícia, uma boa palavra. A luz dos olhos teus falava comigo com tanta intimidade como se me conhecesse há anos, como se já houvéssemos cruzado uma vida inteira juntos, quando, na verdade, estávamos recém começando.
Foi pela luz dos olhos teus que iluminei caminhos que escolhi. E foi pela mesma luz que deixei de trilhar outros. Fui caminhante de cavernas tenebrosas, escudado somente pelo archote vivo da luz dos olhos teus. Quando tive medo, iluminou. Quando não tive, sorriu e gozou comigo a alegria de estarmos vivos.
Fico impressionado com o fato de a ciência só estar descobrindo agora que a luz pode carregar informações, assim como a falta dela. Eu sabia, desde criança. O quarto escuro, a voz temerosa do pai, a falta de luz conversava comigo. Ela dizia: fica quieto, te encolhe e suporta. Depois amanhecia e então era a luz, e ela dizia: agora grita, vive, fica forte. Eu ficava forte, por umas oito horas. Depois veio a luz dos teus olhos e também fiquei forte no escuro. E eram tão doces as coisas que me dizia… Tão claras e calmas. Tão poéticas que pensei que a luz dos olhos teus era um poema luminoso que, até hoje, ela me recita como quem nina uma criança, como quem espanta monstros.
Estes cientistas são todos uns tontos que só perceberam agora que a luz pode carregar informações. De sorriso, alegria, tristeza, paixão, a luz dos olhos teus está repleta. E leio neles todos os dias algo que me ensinas.
De qualquer forma, uma revolução tecnológica, a Li-Fi está nascendo por conta desta qualidade da luz em levar dados em suas franjas coloridas. Depois da luz primordial; depois do fogo e sua luminosidade quente, este misto de onda e partícula dona do infinito promete uma nova revolução.
Espero que haja tanta paz e paixão contida nas novas luzes que estão prometendo, quanto sempre coube nesta mistura de mulher e universo, como me confidencias, sem querer, pela luz dos olhos teus.

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