O passeio de uma nota de cinquenta

Uma nota de cinquenta reais saiu para dar um passeio. Estava ali, tranquila na gaveta do caixa de uma loja num aeroporto de São Paulo quando uma senhora comprou lingeries e mais algumas ‘cositas’ outras e pagou ao caixa com dez notas de cem reais. O caixa abriu sua gaveta e guardou as notas. Antes de dar o troco, teve um acesso de espirros. Espirrou três vezes, mas com elegância e discrição. E deu uma nota de cinquenta de troco para a madame.

A senhora pegou um avião e, uma hora e meia depois, estava em Porto Alegre. Desceu da aeronave com fome e comeu uns quitutes e pagou com a nota de cinquenta. O caixa da lancheria examinou bem a nota para ver se não era falsa, mas a madame disse, ah, eu tenho troco. E tirou trinta reais da mesma carteira em que estava a nota de cinquenta e deu para o homem e ele lhe devolveu os 50.

Madame então pegou um táxi e voltou para seu apartamento. Pagou com a nota de cinquenta reais. O motorista examinou bem a nota e partiu a um posto de gasolina onde completou o tanque, usando a nota da senhora para pagar o combustível.
O frentista examinou a nota para ver se não era falsa e guardou-a junto com outras no bolso. Em seguida, chegou um homem que iria viajar para Santa Maria. Encheu o tanque e pagou com cartão. Mas também lembrou que precisava de cigarros. Pagou com uma nota de cem reais e recebeu a nota de cinquenta de troco.

Já em Santa Maria, deu dinheiro para o filho ir ao shopping com os amigos. Foram ao cinema e o guri pagou com a nota de cinquenta reais, que o bilheteiro examinou bem para ver se não era falsa. Assim, a nota tinha viajado um dia e passado por diversas mãos.

No segundo dia, o dono do cinema depositou o dinheiro da féria no banco. O caixa examinou bem todas as notas e depois deu-as junto com outras a um empresário que fora sacar um valor alto para a folha de pagamento.

Quem recebeu a nota foi um empregado que entrava de férias no dia seguinte e viajaria para Uruguaiana, pois queria ver um festival de música nativista. Assim, a nota passou seu segundo dia, quietinha, na carteira do sujeito.
No terceiro dia, após ter sido banhada pelos espirros de um caixa de loja de um aeroporto de São Paulo, a nota chegou a Uruguaiana. Pela manhã, o cidadão de Santa Maria comprou o ingresso para o festival. O dinheiro dos ingressos circulou pela cidade o dia inteiro.

Aí se entende como um vírus, antes de morrer, pode andar tão longe e deixar um rastro tão funesto de infectados atrás de si.
É um caroneiro nato, o tal corona. E ele gosta mesmo de pedir carona é pra quem não usa máscara. Uma baita parceria.

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