A Bíblia diz que viemos do pó e ao pó voltaremos. Muito mais bonito e provável é que viemos do caos e ao caos volveremos. Foi o cientista americano Edward Lorenz que teve a grande sacada. Parece mais poesia que ciência a frase que usou como alegoria de sua teoria do caos: o bater de asas de uma borboleta no Brasil pode causar um tornado no Texas!
As descobertas de Lorenz, ligadas à meteorologia, acabaram por se enquadrar na vida em geral. Quantas vezes nos deparamos com pequenos e insignificantes fatos que, no decorrer do tempo, transformaram nossa vida radicalmente. Um olhar num grande amor. Uma palavra errada num bar e uma facada no ventre.
Quem diria, por exemplo, que a operação Lava Jato, que hoje mergulha o Brasil no caos político, começou em 2009 investigando um deputado obscuro como José Janene? A política brasileira é hoje um tornado daqueles que varre cidades inteiras.
Todas as decisões que tomamos na vida impactam no futuro. Isso, claro, é uma obviedade. Mas devo repeti-la neste contexto no sentido de que mesmo as mais insignificantes, como optar por outro caminho para o trabalho, uma conversa trivial com alguém na rua,ou encostar o carro numa noite escura para um programa com um prostituta. O que vem depois pode ser nada ou um terremoto. Que dirá quando colocamos o coração num relacionamento. Depois de um suspiro apaixonado, nada será como antes.
Quando escolhemos, através do voto, uma ideia de mundo para por em prática seus sonhos políticos para a sociedade, não sabemos nunca suas consequências. É outra decisão que pode gerar o caos porque toda ideia de mundo precisa de pessoas para colocá-la em prática. E as pessoas… as pessoas, como sabemos, são o caos. As que parecem borboletas acabam gerando tornados. E aí nosso sonho político para a sociedade sucumbe aos ciclones porque deixamos as janelas abertas.
Aos poucos, temos visto nossos melhores mundos, nossos graciosos sonhos, nossos melhores desejos tornarem-se terra arrasada porque as mãos que se colocaram à nossa disposição para elevá-los, apesar das promessas que fizeram, não estiveram à altura. E vamos afundando junto com os navios e os capitães.
Os sonhadores, como a maioria de nós, veem o tempo todo somente a graciosidade das borboletas. Somos teóricos demais, ingênuos demais e não percebemos a maldade do mundo. Quando a maldade do mundo cai de madura no nosso colo, uma bomba atômica já explodiu em Hiroshima, ou o amor de nossa vida partiu porque não fomos capazes de ajudá-la a plantar flores no jardim, jardim que atrairia borboletas.
O que para uma borboleta é um gracioso bater de asas que se abrem para um sutil sopro, para o universo, é um leque de possibilidades. Fatídicas ou não, somos sempre filhos de decisões, omissões, atitudes inteligentes ou burrices inimagináveis. Nossas e de borboletas distantes.
Sempre há borboletas ruflando suas asas frágeis. E nosso mundo não é páreo para o vendaval que se forma. Tão belo e tão triste. Porém, quando nossos sonhos são arrasados pela realidade, é do caos que podemos fazê-los renascer. Porque do pó só teremos poeira.
Por fim, quem dera ser eu um dia uma borboleta e causar toda uma ventania. Ou já fui, e nem sei e nem lembro.
Caos e borboletas
