Barbárie não tem tempo

Por que os antigos egípcios cortavam o pênis dos soldados inimigos mortos em batalha para contá-los, ao invés de decepar o nariz, ou o inconfundível polegar esquerdo, eu não sei. Há símbolo em tudo. Tudo é interpretativo. Talvez fosse para “extirpar” a virilidade dos inimigos e mostrar para os que ficavam vivos que, aos que os defendiam, não restou qualquer potência e que estes, portanto, virassem logo escravos que daí tava tudo certo.
Para mim, é um enigma. Visão do inferno aqueles milhares de pênis ensacados…

E nem imagino se havia um rito ou uma arte para tal. Aliás, até hoje tentamos entender os ritos das pirâmides; Anúbis e outros que tais… No fim das contas, passar a faca num pênis é apenas mais um hieroglifo!
Lembrei-me deste pedaço de antigas leituras quando me deparei com o tal “churrasco” feito por presos com os corpos de desafetos no presídio de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte. Se foi verdade que espetaram nádegas e as assaram como se fosse picanha, não sei, posto que nenhuma fonte confiável o confirmou. Mas, olhando de longe, vemos os mesmo símbolos redivivos de cinco mil anos: mostrar ao inimigo que, se ousar o enfrentamento, nada restará que não a morte, e, aos que lhe são caros, a sobrecarga da humilhação.

Incutir o medo, o pavor faz parte da estratégia. A barbárie, sempre cíclica, sempre retornável como se fosse uma dessas embalagens politicamente corretas que avisa: olha eu aqui traveiz!
O Eclesiastes, o melhor livro bíblico, reitera: não há nada de novo debaixo do sol. Não há o que não se repita. E a maldade humana, em verdade vos digo, é uma cachaça!

Quem não gosta de ti fará festa com qualquer dos teus fracassos. Se teu filho tiver uma unha encravada, vão espocar espumantes. Somos todos loucos e faceiros em função dos nossos inimigos. Há quem queira a quem odiar muito antes de querer a quem amar. Somos tão bárbaros quanto os egípcios de há cinco mil anos. E não vemos problema nisso!
Na época, não havia fontes confiáveis. Sabe-se lá se os historiadores de então eram éticos com a verdade. Todos sabem que historiadores e noticiosos têm lado. Se os egípcios realmente cortavam os pênis de seus inimigos, nunca vamos saber. Se os presos de Alcaçuz fizeram churrasco com os corpos de seus desafetos, não é certo que saibamos.

O que sabemos é que as sociedades europeias mais evoluídas estão fechando presídios por conta da falta de crime. Aqui sobra crime. Poderíamos exportá-lo? Por que não uma nova comódite genuinamente brasileira?

Ah, e teve um cara do governo Temer que disse: “a chacina que ocorreu em Manaus foi pouco. Bom seria se houvesse uma por semana.” Nunca vou entender como doentes conseguem chegar ao status de integrar cargos importantes de um governo, posto governo como uma entidade pública cuja função máxima é integrar, reajustar e civilizar a sociedade e não barbarizá-la mais do que ela já está.
Mas, pensando bem, é o governo golpista de Michel Temer. Logo, tem sentido.

No fundo, no fundo, bem lá no fundo, algo de nós nunca se humanizará. A boa sociedade, o emprego, a família, a civilidade nos tranquilizam. Mas tire isso, jogue-nos aos porcos e seremos tão selvagens quanto os piores predadores. A maldade precisa de oportunidade. Os governos não deveriam permiti-las. Mas como inclusive a incentivam, somos todos egípcios de cinco mil anos atrás.
No fim de tudo, ficaremos ou sem pênis ou sem nádegas. A ideia é apavorar para temer.

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