A obediência servil

Nunca dantes na História do mundo, houve algo tão forte e ao mesmo tempo tão deplorável do que a descoberta da obediência servil. E o uso que se fez e faz disso. Aquela em que o cara faz qualquer coisa por seu deus, seu líder, seu senhor sem qualquer análise crítica.
“Em 1740, o rei Frederico II, da Prússia, invadiu a Silésia, o que foi o início de guerras sangrentas que levaram a Prússia a ser uma grande potência. A maioria dos recrutas de Frederico eram jovens desafortunados, submetidos a uma disciplina férrea e exercícios desumanos. Os soldados o odiavam. Ao observá-los se agrupando para a invasão, Frederico disse a um dos seus generais: “O que mais me impressiona nesta situação é olhar estes 60 mil homens; todos me odeiam, todos são meus inimigos. Não há nenhum que não seja mais forte do que eu; nenhum que não esteja mais bem armado do que nós, contudo tremem à nossa presença e não temos qualquer razão para temê-los. “
Todos serviram a Frederico e à Prússia com denodo e muitos deram a vida por seu rei e sua pátria, que nunca fizera nada por eles.
Este mesmo princípio nos move há milênios. Nossos direitos trabalhistas foram extirpados; nossa aposentadoria está na berlinda; o desemprego voa em céu de brigadeiro; muitos políticos e homens importantes do país não pagam nem impostos nem por seus crimes, e ficamos com nossos ódios enrustidos, lutando cotidianamente a guerra deles como se fosse a nossa, sem qualquer revolta contra nossa ida ao matadouro. Os povos que se revoltam são raros.
A obediência a regras, a crenças institucionais como à Justiça, à Constituição, às pessoas investidas de poder ajudaram a civilizar o mundo. O problema é o abuso em nome de valores que acabamos por obedecer também por medo de, ao não obedecê-los, as coisas fiquem ainda piores. Normalmente, o povo não aposta no caos. Quem aposta são os oportunistas e os aventureiros.
E é no vácuo que se forma entre nossas dúvidas e nossos medos, que eles se aproveitam.
A obediência servil a ídolos de barro, que em breve tempo nos decepcionam, nos traem, é uma das principais causas de nossa frustração com a política, com os rumos do país, com a nossa própria existência, posto que lutamos a vida inteira por uma ideia de mundo que, no fim das contas, não passou de uma grande manipulação de nossa vontade, da nossa energia, da nossa fé.
Como os servos dos Faraós que eram enterrados com seus senhores para servi-los na vida eterna, servimos à ideias mortas, a causas perdidas, a senhores que nos expoliam em direitos, cidadania e liberdades.
Você já se imaginou sendo enterrado com Temer, ou com Sartori, e ter que passar a eternidade com eles? Temos seguido “mitos” desde nossa tenra humanidade. E a História mostra que, no mais das vezes, acabamos enterrados com eles.
Nossos líderes, como Frederico II, por mais mal que nos façam, eles não têm qualquer motivo para nos temer. Olham-nos do alto, limpos e sadios, enquanto rastejamos pela lama, com frio e com fome, tentando matar os inimigos que eles elegeram para nós. Olhamos para eles com ódio, eles são sim nossos inimigos. Mas quando eles levantam a espada e tocam o clarim, somos seus soldados, e seus servos, e seus trabalhadores, e seus velhos moribundos e pobres nas triagens dos hospitais.
E assim, por séculos e séculos, caminha a desumanidade.

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