O ódio está no ar

Então você pensa diferente de mim…
É um tal de cutuca daqui, indireta dali; pela internet somos capazes de bulir com o pensamento alheio, disseminar nossas ideias. Para o bem e para o mal. Somos capazes de atingir o outro e deixar nosso recado.
O historiador Leandro Karnal, em algum momento, afirmou que as redes são facilitadoras do ódio. Sou obrigada a concordar: é muito mais simples xingar, odiar, desejar o mal e, até, a morte de alguém, escudado por uma tela de computador. Mas o problema vai além: para algumas pessoas, também é simples passar do desejo expresso e impresso nas redes para a vida real. E, depois, talvez, matar.
Está bem difícil encontrar quem discorde da gente; mas que discorde com classe, com temperança, sabe? Pessoas que tenham convicções e que estejam abertas ao diálogo com civilidade. Está fácil demais de a gente se deparar com impropérios. O ódio está no ar. Está em praça pública, nas esquinas. Forçando as portas das escolas, invadindo os tribunais.
Diante de tanto fel, há quem busque o enfrentamento e, ironicamente, acabe integrando o batalhão raivoso. Há quem se acovarde (e, juro, não lhes tiro a razão).
Quem se cale, quem grite. Quem abandone as redes sociais e cogite mudar de cidade, de país. Não é mesmo fácil viver em meio a tanta animosidade. Há a tentativa de sensibilizar os que não têm sensibilidade alguma, seja escrevendo, cantando, fazendo graça. Através da arte, porque contra o ódio quase não há argumentos. Há pessoas que resistem, sim; são ilhas, e insistem em propagar coisas boas.
Esse pessoal furioso é especialista em “ódio próprio”. Ao contrário daqueles que disseminam amor, que popularizam o amor próprio e o ficar bem, essas pessoas vivem para execrar o outro e espalhar a sua infelicidade. Cada vez que odeia o próximo, bebe do próprio veneno. E, cada minuto dedicado a pensar a desgraça alheia, uma desforra, retaliação, é desperdício da própria vida.
Ao contrário do que é dito por aí, o ódio não é revolucionário; ele aprisiona. A grande questão é que esse ódio próprio é autossustentável; essa sanha é viciante. Começa com um desgosto, uma raivinha e, logo, há um pelotão querendo exterminar a sua raça. Sou a favor de uma campanha para despoluir nossos ares, limpar esse rancor todo que paira por aí.
Seria bem melhor começar a semana falando de coisas boas: pássaros, amores e canções. Infelizmente não dá, porque a gente precisa encontrar formas de desintoxicar. Nem que seja escrevendo uma crônica sobre o ódio em plena segunda-feira de manhã.
Concorda?

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