Calabouço: prisão subterrânea, fria e escura; masmorra. Lugar ou aposento sombrio e triste.
Hoje em dia é muito comum estarmos queixosos das prisões nas quais vivemos: nossas próprias casas, a tecnologia que cerceia, o trabalho quando mais nos custa do que satisfaz. A desumanidade. Estamos presos à coletividade, ao mesmo tempo encarcerados pelo tempo e o dinheiro, apesar da falsa sensação de estabilidade e segurança. Apesar de algum conforto. Apesar das grades.
O dia a dia pode ser um lugar sombrio e triste.
Nesse mundo de clausura, onde aprisionamos nossos próprios sentimentos, e depois sentimo-nos sufocados pela falta deles, muitos buscam na arte um meio de sobrevivência. Na poesia, o fôlego para seguir em frente.
A escritora Adriana Bandeira surge como uma dessas almas desassossegadas, que transforma as palavras através da sua ressignificação, que transforma nossa vida através das suas metáforas: “Nunca mais usei roupa nas palavras”. Um oásis, encontrar seus versos nas redes sociais e, agora, compiladas nas páginas de Escritos de Calabouço (Editora Patuá). Este, o primeiro livro de poesias da psicanalista montenegrina, autora de Chá das Cinco (2005) e integrante das coletâneas Histórias do Trabalho (2000) e Contos de Abandono (2010).
Uma poeta que encanta com versos atrevidos; cuja maior ousadia, creio, é escrever essas coisas bonitas que a gente sempre quer dizer, mas nunca encontra as palavras. Adriana pensa, sente e transborda emoção para que tenhamos a liberdade de viver a sua poesia:
“Que sou / Branca/ Negra/ Índia/ Sou indecente”.
Sentimento a gente não aprisiona (e aproveitemos esse por enquanto em que palavras também não). A gente precisa dessa liberdade da poesia, da inspiração, das palavras. Precisamos nos libertar das prisões, nem que seja no breve espaço de um verso.
“Abriria palavra com o vazio dos dias… estas carícias!, com que escreves teu nome na minha poesia.”
Se a poesia é uma dessas chaves que abrem as portas, obrigada Adriana, pelas pequenas fugas que nos proporcionas.
Lançamento do livro Escritos de Calabouço:
– Dia 16 de agosto, POA – Pub Carmelita, às 19h