Pequenas bexigas coloridas e um enorme céu azul.
Deito a cabeça no travesseiro verde que se estende ao meu redor. Aperto os olhos e abro em seguida, bem grandes, como um abraço, só para assistir ao pequeno show de artifícios particulares, que eu inventei na esperança de te ver. Insisto em encarar novamente o sol. Faz tempo que não desanuviava tanto.
Que dia é hoje? (Uso parênteses para suspirar baixinho). Parece que já entramos em câncer. Julho é um mês bonito. Bonito é uma das palavras mais bonitas que existe; bonito me comove. E o céu hoje está, além de belo, de lindo; está bonito demais.
Esse dia assim, vivo, esse céu, faz com que eu me lembre de ti. Depois de muito tempo, de um jeito bonito. Assim como teus olhos sempre me lembraram céus azuis. Um domingo de poucas nuvens. Um caso de amor com o cosmo. Que eu não esqueço, que meu corpo não esquece… essas linhas não me permitem esquecer.
Pequenas bexigas coloridas: amarelas, dois tons de rosa, verde e azul. E havia aquelas transparentes, que não deixavam de ser azuis também. De um azul da intensidade do céu, me fazem perceber que tu não passa de uma lembrança que já não está, já não inflama. Apenas um nome.
E, mesmo que ainda restasse uma garrafa de vinho no armário, as taças já foram quebradas. Têm coisas que não falo nem às paredes. Dias de sol são um oásis no meio do inverno. Mas eu não canso da chuva; não foi por acaso que Fernando Pessoa cochichava entre as páginas do livro que “… a chuva, quando falta muito, pede-se.” Se eu soubesse por antecipação, ainda assim, faria questão de errar tudo exatamente igual. O mesmo inverno, a mesma chuva; tudo fez valer os nossos verões.
Cato um trevo na grama e finjo que ele tem quatro folhas. Vou semeando meus dias de sorte.
Escrevi teu nome naquele último balão que restou sem alegrar as crianças do parque. Aquele mais triste, aquele sem cor.
Sorrio para o céu enquanto te assisto partir.