Nada mais chato que mudança de temperatura. É brabo o sujeito sair de casa cedo da manhã tendo a impressão de que está às portas do Polo Norte e, bem antes do meio-dia, tudo já virou um braseiro tropical. Impossível saber se um casaco será útil, de fato, ou um peso o dia todo. Via das dúvidas, sigo o pensamento do meu pai: “a lã não pesa pra ovelha”. Ou seja, se não sabe, vá preparado para o pior, ou para o melhor jeito de resolver o que parece sem solução. Casaco dá pra tirar, se a temperatura aumenta, mas não se cria um do nada se ocorre o contrário. E no Rio Grande do Sul, convenhamos, há que se ter uma carcaça especial, pronta para viver as quatro estações em vinte e quatro horas. Ser gaúcho não é pra qualquer um.
Aí chove. Ameaça temporal. E cai o mundo. Eu estranho isso tudo, dá uma sensação esquisita de que o apocalipse deve estar logo li, e olhe que sou um cético. Meio São Tomé, só acredito no que vejo e aposto apenas na lógica humana previsível. Como não esperar nada de bom de alguém acostumado a passar os outros na perna. Essas coisas. Só que isso de ter tremores de terra até perto da gente me incomoda. Temporal era coisa que acontecia lá de vez em quando, nos meus tempos de guri, e agora dá toda hora e em qualquer lugar. Tornado, que eu só via em filme, agora destrói caminhos por onde passo. Cada vez que o tempo fecha e um mormaço anuncia a chuvarada, bate um medo. O céu preteia, as tragédias acontecem com muita facilidade. Parte do preço que pagamos pela nossa humana e gananciosa burrice destrutiva.
Dia desses eu estava me preparando pra jogar aquele futebolzinho semanal, com colegas de trabalho, quando uma tosse chata começou a incomodar. E a garganta já ardeu, e já deu uma leve indisposição e aquela coisa toda que anuncia a famigerada gripe. E tá aí outra coisa que no meu tempo era bobagem, “ah, é uma gripezinha de nada, logo tá bom, não precisa ficar se fazendo de doente”. Gripe nem era considerada doença. Agora é gripe A, gripe suína, vírus influenza, notícia de mortes e não sei mais o quê. A cada Inverno que se aproxima, uma corrida aos postos de vacinação. Bah. O que houve com a humanidade? Nem se gripar numa boa o sujeito pode mais? Tá tudo muito sério, muito violento. Nem esses vírus perdoam mais. Quero voltar no tempo. Não me agrada esse mundo onde um simples espirro pode ser encarado como anúncio fúnebre.
Mas é o que há. Fui jogar meu futebol igual, na hora pensei até que tinha melhorado, marquei três gols (o goleiro adversário era meu amigo), encarei o chuvisqueiro, a grama molhada, tudo beleza. Saí feliz sem me lembrar da gripe. Pois ela voltou valendo. Mesmo assim, fui a uma reunião de trabalho e lá, no mínimo, outras dez pessoas não estavam muito bem. No Rio Grande do Sul vencemos a gripe na teimosia, desprezando seu potencial. Mesmo atordoados, trabalhamos. Mas aí é aquele coro de fungadas. Tosses. Pigarros. A sonoplastia das mudanças de temperatura. Sussurros que substituem gemidos e confessam, pra alguém indefinido, que se está com uma dor de cabeça que só vendo. Há quem odeie o Inverno e quem odeie o Verão. Pois eu já não gosto é dessas estações indefinidas. Como é que a gente vai configurar o Split na temperatura ambiente, se o ambiente lá fora muda de temperatura toda hora? Não dá. Mais fácil confiar na defesa do Inter.