Não simpatizo muito com essa coisa de “no meu tempo” e coisa e tal. Eu era garoto e não gostava muito dessas comparações, sempre em desfavor do momento que se vive. Ainda que esse nosso momento, o de hoje, convenhamos, não ajude mesmo. Fazer o quê. É difícil dizer que algo tá bom. Tecnologia, talvez. E talvez, porque mesmo a tecnologia é cheia de poréns: podia nos ajudar mais e atrapalhar (nos afastar) menos. Tá, a gente fica velho e se surpreende coberto de saudosismos, inserindo um “no meu tempo” em qualquer conversa de amigos ou parentes. Até que alguém te corta, “ih, lá vem ele, com essas histórias do tempo do Ariri”. Bah! Resta ficar brabo e negar o saudosismo, ou permitir que a ficha caia. Sério, podemos ser chatos com nossas reminiscências provocadoras. Os jovens querem, e precisam, viver seu momento. Sem comparações.
Fui jovem nos anos 80. Foi bacana. Embora hoje eu até pense que vivíamos cercados pelo mau gosto (modas, cabelos, roupas, etc.) e que aquela década também teve Menudo, Sarney na presidência e outras bizarrices. Mas foi um momento magnífico, por exemplo, no rock nacional. Os adolescentes de hoje brilham os olhos ao me perguntar como era ir ao show do Legião Urbana, do Cazuza, Plebe Rude, ver Falcão e Zico jogar bola (muita bola!) e ainda saber que Raul Seixas estava (quase) vivo. A música jovem daqueles anos tinha cada poema que só vendo. Fosse de cunho social, ou existencialista, os caras sabiam como dizer as coisas. Sabiam protestar e acreditar. As músicas de hoje, principalmente no tal Sertanejo Universitário – que desconfio nem ter passado no ENEM – só falam em cerveja e rimam “vocêee” com “fazêee” e “sofrêee” e “êeeee” e deu. Não consigo me empolgar com meio refrão. Já no meu tempo…
A minha geração sentiu que o mundo mudava e o pé da humanidade beliscava o acelerador. Não sei se lidamos bem com isso. Foi muito rápido, da máquina de datilografia ao smarthphone. Os grisalhos da minha adolescência tinham vivido os tempos da brilhantina, Woodstock e a Jovem Guarda. Não eram mais os jovens que haviam sido seus pais e já ouviam sermões sobre “no meu tempo”. Os rapazes de 1760 discutiram modas e músicas com os de 1780? Duvido. Como também duvido que, mesmo assim, tenham vivido sem alegar aos mais novos que no tempo deles é que era bom. As gerações têm conflitos. E nem é pela geração, apenas algo natural na relação entre pais e filhos e avós. Se o mundo não muda, nós mudamos. Passamos a ver os mesmos fatos de outro ângulo. Acumulamos alegrias e decepções, frustrações e conquistas, dores e prazeres. A fortuna de sentimentos, marcas e lembranças que enche o baú da nossa essência. Que é única. Ver algo de forma diferente, por um passo dado, é o que chamam de amadurecimento. Eamadurecer é ótimo, mas não perder a luz que te impulsiona na juventude é melhor ainda.
Minha maior saudade, confesso, é acreditar. Ser capaz de apostar nisso ou naquilo. E é um desafio constante não permitir que esse olhar cético, sobre o que nos cerca, contamine aqueles com quem temos responsabilidade de convencer a ir adiante porque, apesar dos pesares, há um caminho. É difícil ter o mesmo otimismo do jovem de décadas atrás, que, admito, não era bobo e já nem era tão otimista assim, óbvio. Pelo menos, posso contar o que vi. E o que ouvi. Falar sobre a origem de algumas coisas que deram errado. E mostrar que, no meu tempo… Tá. Deixa pra lá.