A batalha da depressão

Não há um motivo definido. Uma fórmula exata, uma receita a ser seguida ou evitada, nem mesmo há um protocolo que possa se chamar de infalível contra esse mal contemporâneo chamado depressão. Afora, claro, buscar ajuda. Mas quem, acometido por este mal, estará consciente de que precisa de ajuda e de que precisa procurá-la? Porque ela, a depressão, é silenciosa, ardilosa, impiedosa e asfixiante. Afeta corpo e mente. Meio bilhão de pessoas no mundo, mais ou menos, podem estar sofrendo dessa doença. E do quase um milhão de pessoas que comete suicídio a cada ano no planeta, boa parte são jovens entre 15 e 29 anos que estão nos deixando por conta de quadros depressivos agudos. É grave. Muito grave. Não pode ser desprezado.
Eu caí pra depressão em 2015. O ano anterior não havia sido fácil, vida pessoal e profissional em rebuliço, sobrecarga de trabalho, o país vivendo aquele caos econômico e político, todo mundo meio perdido. O motivo? Não sei. Talvez tenha vindo lá de criança. Mas de repente me surpreendi no meio do trabalho não tendo paciência para ver ninguém. A insônia no quadro mais grave, as poucas horas de sono povoadas por pesadelos com ocorrências do passado que eu já nem lembrava mais. Ir ao mercado era uma tortura, queria ser invisível, não encontrar uma voz que me dissesse “Olá, Bessi” ou “Bom dia, Capitão”. Isso doía como uma facada. Sorrir e seguir uma conversa era tortura, eu tinha vontade de correr e largar as compras de mão. Mas foi quando eu, que amava estar sempre na linha de frente com minhas equipes, comecei a suar acima do normal, ter falta de ar e tremer a mão que empunhava a arma, que decidi procurar ajuda. Meu comportamento estava se alterando. E me dei conta e fui ao psiquiatra. Foram cinco meses afastado de tudo, por ordem dele. O que mais me doeu foi quando colegas de farda vieram retirar minha arma. Eu, o cara que amava combater o crime, virava um inválido. Não era isso, mas era o que eu pensava.
Foi duro, foi caro, mas passou. Se fui curado, eu não sei. Talvez aprendi a lidar com ela, a domá-la. Mas, desde então, nunca mais consegui escrever um conto sequer. Apenas as colunas para jornais. E confesso, cada texto não sai sem algum sacrifício, permeado de “brancos”. Cheguei a julgar que o escritor tinha acabado sem ao menos chegar perto do sonho de ter sido um bom escritor, ou escrito algo realmente bom (não que eu não goste dos meus livros, mas penso que poderiam ser bem melhores). Aí veio, na sequência, o problema no pulmão. Há um ano, eu respirava com apenas 27% da capacidade dele e a pneumologista cogitava balão de oxigênio. Hoje, já voltei a correr e jogar futebol (média de três gols por partida, nem Paolo Guerrero me supera, tanto que o corretor do celular dos meus amigos ajusta meu nome para “Oscar Messi”, em vez de Bessi). E, não fosse as recaídas depressivas nesse meio tempo, as vontades de desistir de tudo, acho até que eu estaria ainda melhor.
Por que escrevi isso? Primeiro, porque não tinha ideia sobre o que escrever e o prazo estava acabando. Rá!, brincadeira! Mas essa dificuldade em criar textos, cenários e personagens também sonho recuperar, tanto quanto o pulmão, e ainda escrever um bom livro. Mas falo sobre isso porque a gente precisa refletir sobre. E, a partir de casos concretos, buscar e oferecer ajuda. A depressão é um monstro silencioso que nos subjuga. Porém, há muito preconceito ainda ao nosso redor. E é esse preconceito que mata tanto quanto a própria doença em si. Fique atento.

Últimas Notícias

Destaques