Com a divulgação do rombo contábil envolvendo as Lojas Americanas, que anunciou uma dívida de R$ 43 bilhões e mais de 16 mil credores, voltamos à velha discussão sobre governança corporativa e o “compliance” (conjunto de disciplinas institucionais para se fazer cumprir normas legais e regulamentares). O rombo ocorreu, pelo que se sabe até aqui, por meio de linha de crédito conhecida como “risco sacado” – triangulação entre empresa, fornecedores e instituições financeiras.
Hoje, nossas empresas prezam muito pela questão de bons relacionamentos, o que acho louvável, pois vivemos em sociedade. Mas vejo que temos casos em que a administração valoriza mais isso do que os dados e fatos, que nada mais são do que todas as informações que as empresas têm, como balanço do contador, indicadores econômicos, financeiros, auditorias e etc. Tudo deve sempre caminhar junto. E para estar em um mundo corporativo, temos que ter muito discernimento entre relacionamento e “compliance”.
Uma boa prática de governança deve estabelecer sempre processos dentro das empresas para efetivamente atingirem resultados que possam atender às necessidades da sociedade e do desenvolvimento organizacional, fazendo uso estratégico de todos os recursos disponíveis. O surgimento da governança corporativa se deu pela necessidade de as organizações abandonarem padrões familiares de gestão, estabelecendo um sistema que preza pela participação de acionistas nos negócios, o que acarretou na divisão entre quem detinha a propriedade das organizações e quem, de fato, realiza a gestão.
Com o “analytics”, as empresas vêm evoluindo rapidamente, mas sem as pessoas certas, que saberão trabalhar com as informações, de nada vai adiantar. Valorizar a opinião dos funcionários dentro do ambiente de trabalho sempre será fundamental, o que me parece ter sido inexistente neste caso das Americanas, onde imagino que as pessoas não tiveram liberdade de expressão. Será em vão implementar o famoso canal de denúncias, se a empresa não tiver a cultura da escuta. Outro fato: contador e CFO (Chief Financial Officer) precisam ter conhecimento técnico e o princípio da ética. Não basta ter formação, é preciso agir com responsabilidade.
A lição aprendida é que, apesar de toda a tecnologia, o ser humano ainda deve ser nosso maior investimento empresarial. É através de bons gestores e suas qualificadas equipes, que demostrem estar em simetria, união e comprometimento com o planejamento estratégico, que será possível navegar com menos intercorrências. O universo dos negócios, da economia e da contabilidade são muito voláteis e variáveis. Precisamos constantemente estabelecer a resiliência humana para alcançar o sucesso e nada melhor do que isso tudo ser executado por pessoas em perfeita sintonia.