O melhor de cada um

Quando as primeiras notícias sobre o coronavírus surgiram, muitos agiram com desdém, como se não houvesse risco de a doença chegar até nós. E mesmo quando o agente causador da Covid-19 invadiu a Europa e os Estados Unidos, causando um número maior de óbitos, não faltaram vozes sugerindo que as medidas de isolamento defendidas pelas autoridades eram exageradas. Agora que o vírus está entre nós, o receio é o de que tenhamos demorado demais a agir. O tempo dirá.
De qualquer forma, são alarmistas e mal intencionadas as comparações que vêm sendo feitas nas redes sociais entre o coronavírus e a peste negra, que, em vários momentos, durante a Idade Média, dizimou até um terço da população mundial. As situações são totalmente diferentes. O fato de muita gente ter matado as aulas de História ou simplesmente não ter prestado atenção, enfim, cobra o seu preço.
A peste negra – depois rebatizada para peste bubônica – é causada por uma bactéria presente em ratos pretos. Pulgas que morderam os roedores, ao entrar em contato com os humanos, transmitem a doença, que causa febre, dores de cabeça e vômitos. Além disso, aparece um inchaço enorme nos gânglios linfáticos, além de manchas pretas ao redor da pele. A moléstia surgiu na Ásia e passou a se espalhar por toda a Europa a bordo dos navios. Estima-se que ela tenha matado mais de 50 milhões de pessoas entre 1343 e 1353.
Nos mais de 600 anos que se passaram, muita coisa mudou. Estamos falando de um tempo em que o único “remédio” aceito pela sociedade era a oração. A doença era vista como um castigo divino. Qualquer um que ousasse sugerir algum método de tratamento corria o risco de ser acusado de bruxaria e executado pela Igreja. As condições de higiene das cidades eram péssimas, não havia água encanada e sequer a noção de exames de diagnóstico. O jeito era esperar que o organismo combatesse a peste sozinho, o que raramente acontecia. Até porque as pessoas se alimentavam muito mal e de forma insuficiente.
A grande diferença é que hoje sabemos com o que estamos lidando e podemos, inclusive, prevenir o surgimento da doença. É preciso acreditar na Ciência, fazer o que os especialistas sugerem e, sobretudo, parar de semear o pânico. O isolamento proposto pelas autoridades de saúde e sabiamente decretado por prefeitos e governadores é um incômodo necessário. Assim como deve ser a compreensão de que, depois disso, todos estaremos com menos dinheiro para honrar nossos compromissos porque muitas empresas serão obrigadas a reduzir jornadas e até a demitir.
A cada dia que passa, os fatos reforçam a minha convicção de que tudo isso é um grande teste. Por todos os lados, surgem iniciativas de apoio aos grupos de risco. Há jovens se mobilizando para ir às farmácias e aos supermercados fazer as compras de quem não deve sair de casa. Empresas prorrogam os vencimentos de contas e outras fazem doações de álcool gel. Para os que ficam confinados, não faltam opções de lazer gratuitas na internet que antes eram pagas.
Eu sou um sujeito otimista por natureza e tenho a certeza de que a pandemia de coronavírus vai despertar o que cada um possui de melhor. É o momento de cuidarmos daquelas pessoas que amamos, de passar mais tempo com a família, de conversar com os filhos sobre o futuro e resgatar as memórias do passado com nossos pais e avós. Agora temos este tempo. Vamos aproveitá-lo!

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