Nota 10 em desmonte

Certo dia, acompanhando pela janela da redação a aproximação de um temporal, comentei com um colega que a nuvem era do tipo cúmulo nimbo, que costuma vir carregada não apenas de muita chuva, mas também de ventos, raios e até granizo. Em poucos minutos, minhas previsões se confirmaram e, incrédulo, meu amigo quis saber onde tinha aprendido aquilo. Foi no Ensino Fundamental, mais precisamente nas aulas de Ciências da 5ª série da Escola Estadual Osvaldo Brochier, em Santos Reis. Também foi lá que, através de jogos organizados pelo professor Canísio Sérgio Schneider, memorizei a grafia de muitas palavras e aprendi a exercitar a chamada “regra de três”, que me permite calcular porcentagens mentalmente e saber, por exemplo, se a taxa de juros de uma compra a prazo não é abusiva.
Não falo disso com o objetivo de me promover. Até porque todos que estudaram comigo nos anos 80 e 90 tiveram as mesmas lições e desenvolveram estas habilidades, salvo raras exceções. Trago o assunto à roda para mostrar o quanto o ensino público piorou desde então. Tem sido cada vez mais comum encontrar recém-formados com imensas dificuldades em Matemática e em Língua Portuguesa. O sucateamento do ensino, que iniciou pelos salários dos mestres, entrega às empresas indivíduos que não dominam, sequer, as quatro operações básicas e a redação de frases simples com coerência e correção. Nem percamos tempo falando em interpretação de textos.
Os resultados do Brasil no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), divulgados esta semana, confirmam a triste realidade com a queda de pontuação nas três áreas avaliadas: ciências, leitura e matemática. O Brasil está mal no ranking mundial: o país ficou na 63ª posição em ciências, na 59ª em leitura e na 66ª colocação em matemática. Nas três áreas, as escolas públicas municipais e estaduais tiveram desempenho abaixo das federais e privadas.
A situação é péssima e tende a piorar ainda mais. O governo do Estado acaba de publicar a Portaria 289/2019, que prevê a flexibilização da grade curricular do Ensino Médio. Vai diminuir a carga horária de todas as matérias e instituir as disciplinas “Projeto de Vida” e “Percurso Formativo”, cujos conteúdos não estão explícitos. Aparentemente, o objetivo é a formação de mão de obra, por meio de aulas e oficinas de nível mais técnico. Ninguém sabe exatamente do que se trata, embora a implantação esteja marcada para daqui a alguns meses: fevereiro de 2020.
Na nova grade, as aulas de Língua Portuguesa serão reduzidas. Hoje são quatro períodos por semana em cada ano do “2º grau”. Agora serão três no primeiro e no terceiro anos e dois no segundo. Os encontros com o professor de Matemática, que também eram quatro por semana em cada ano, diminuem para três no segundo e no terceiros anos. Quatro, somente no primeiro.
O Ensino Médio, que tem como objetivo central a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental, há muito não atende a este objetivo. Com a implantação da nova grade, será ainda pior. Pagar mal os professores e subsbstituí-los por pessoas sem preparo, como se vê, foi apenas um dos mecanismos do desmonte do ensino público. Neste quesito, os governos de todos os partidos fizeram e continuam realizando um excelente trabalho. Para destruir a Educação, são extremamente eficientes.

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