Quando Adolf Hitler decidiu invadir a União Soviética, no começo da 2ª Guerra Mundial, a escalada nazista pela Europa parecia irrefreável, diante das várias conquistas que o Führer vinha acumulando. Motivados e arrogantes, os soldados partiram em direção ao leste com a certeza de que rapidamente subjugariam os inimigos. A ordem era não fazer reféns durante os avanços, pois o socialismo era uma praga a ser exterminada. Contudo, no meio do caminho, havia a cidade de Stalingrado. Seu nome era uma homenagem ao líder soviético Josef Stálin, o que a tornava não apenas um símbolo, mas uma jóia da qual Hitler não abria mão.
Num primeiro momento, a partir de 17 de julho de 1942, as divisões alemãs, formadas por uma linha de tanques e milhares de soldados, com o apoio de aviões da Luftwaffe, avançou sem maiores baixas. Grande parte da cidade foi arrasada pela chuva de bombas e as forças de defesa acabaram confinadas em apenas um setor, de onde resistiam bravamente. Foi nesse momento que o Exército Vermelho percebeu que não venceria os invasores pelos métodos tradicionais e colocou em cena dezenas de atiradores de elite. Camuflados em construções, atrás de veículos e no topo dos prédios, eles abatiam alemães com tiros certeiros, normalmente na cabeça.
O mais famoso desses matadores foi Vassili Zaitsev, que tinha 27 anos na época. Ele aprendera a atirar durante as caçadas com o avô e, com sua arma, liquidou pelo menos 243 soldados e oficiais inimigos. Assim que os generais perceberam sua habilidade e o sucesso de suas incursões, trataram de transformá-lo numa espécie de herói. Seus feitos foram maciçamente divulgados através de panfletos, não só em Stalingrado, mas em toda a União Soviética. A idéia era mostrar que, com técnica, disciplina e determinação, era possível vencer. Os alemães ficaram tão incomodados com a situação que mandaram seu próprio “herói” para matar Zaitsev. O major Erwin König bem que tentou, mas também tombou depois de ser alvejado pelo russo.
O enfrentamento à pandemia de coronavírus também é uma guerra e, neste momento, todos se sentem ameaçados. Ficar em casa, correndo o risco de não receber o salário ou de ser demitido acaba com os “nervos”. O boletim diário com o número de mortos é opressivo, assim como a noção de que todos, em algum momento, verão algum amigo ou familiar doente. Então, neste momento, precisamos do nosso “atirador de elite” para mostrar que podemos – e vamos! – vencer a doença se exercitarmos a técnica, a disciplina e a determinação dos snipers russos na Segunda Guerra. O isolamento social e a boa higiene são partes importantes disso, mas o que vai nos manter em pé é a esperança.
O site da Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, desenvolveu um mapa da pandemia e, diariamente, divulga um balanço da Covid-19. Na manhã desta quinta-feira, segundo a instituição, a quantidade de mortos em todo o mundo era de 48.320 pessoas. Em contrapartida, já havia 202.541 recuperados. A contagem de cadáveres é importante para manter a prevenção, mas a divulgação maciça do número de doentes que vencerem a doença oferece esperança à população. Assim como os generais soviéticos perceberam que os feitos de Zaitsev elevava a moral do Exército, espera-se que nossas autoridades se dêem conta da importância de aperfeiçoar estes indicadores e divulgá-los regularmente. Enquanto não há vacina e nem remédio para a Covid-19, precisamos de esperança.