Isolamento para quem precisa

Assim como outras pandemias que atingiram o Brasil ao longo dos últimos 120 anos, também a covid-19 será superada e, um dia, aparecerá nos livros e e-books de História como um momento difícil na vida da maioria dos países. Muito mais grave e contagiosa do que a doença nascida na China é o Mal da Ignorância, presente no mundo todo, com especial predileção pelos habitantes dos trópicos. A boa notícia é que, diferente do coronavírus, o remédio já existe. Chama-se Educação e é de uso contínuo. Deve ser ingerido em doses generosas ao longo de toda a vida para que a doença, que está latente em nosso organismo desde o parto, não se manifeste.
Em geral, existem dois tipos de paciente. O “ignorante” mais comum e numeroso é aquele que, pelos mais variados motivos, não teve acesso ao ensino na quantidade adequada. Ele conhece as suas limitações e tenta conviver com a doença, sem abrir mão de todos os tratamentos alternativos disponíveis. Não conseguiu ir à escola ou à universidade, mas, sempre que pode, lê um pouco, faz pesquisas na internet e conversa com quem está medicado para aprender. Estas pessoas escutam mais do que falam e, com o tempo, embora nem sempre desenvolvam a formação clássica, conseguem frear a evolução da moléstia. São guerreiros e devem ser respeitados pelo esforço.
O segundo tipo é o “ignorante convicto”. Ele existe em menor número, mas é persistente, barulhento e suas ações costumam não apenas espalhar o patógeno, como criar dificuldades a todos os demais. Nesse grupo, estão aqueles que tiveram a oportunidade de estudar, concluíram um curso de nível superior e até conquistaram posições de destaque na sociedade. Mas são intelectualmente preguiçosos, adotam as teorias que se aplicam à sua realidade e não têm o mínimo interesse no debate. A menos que suas opiniões sem base prevaleçam.
O ignorante convicto pode ser de Direita ou de Esquerda, mas é sempre fanático. Não importa que seus líderes e ídolos roubem, façam ou digam bobagens, ele vai defendê-los. Se precisar, lança mão de fake news, apela para o vitimismo ou ataca a honra dos debatedores. Em geral, é preconceituoso: menospreza as mulheres (mesmo quando é mulher), considera os gays uma aberração e os negros uma sub-raça. Quanto aos idosos, deficientes e doentes, desenvolve certa tolerância quando são parentes. Caso contrário, considera-os mera estatística, problemas que a morte – de preferência logo – vai resolver.
O Mal da Ignorância está entre nós há muitos anos, desde que a civilização habitava cavernas e vivia da coleta de frutas e da caça de mamutes e outros animais. Fundiu-se ao DNA humano de tal modo que governa a mente daqueles que não foram adequadamente medicados. Na pandemia de coronavírus, os ignorantes convictos são incapazes de entender que a economia capitalista sempre se recupera e que o isolamento por alguns dias é uma forma de evitar a lotação dos hospitais e a morte dos idosos e dos doentes por falta de estrutura de atendimento. Para eles, os exemplos de outros países e a voz dos cientistas são distorções. A mídia é sua grande inimiga.
Então, quando tudo isso acabar – e vai acabar porque os ignorantes convictos são irritantes, mas são poucos – a humanidade deve se preocupar mais com eles. Como já existe tratamento conhecido e que pode ser acessado de graça, talvez as autoridades devam isolá-los em suas casas. Na fase mais aguda, até que os livros façam efeito, o melhor seria que, na internet, tivessem acesso apenas a conteúdos de informação e pesquisa. E nada de redes sociais por algumas semanas! É para o bem de todos.

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