“Bandido bom é bandido morto”, “Que se ferrem: se estão na cadeia é porque não prestam”, “Cela cheia? Que nada, cabem mais 50 aí.” Admita: você pensa desta forma ou, pelo menos, já se pegou alguma vez torcendo para que a prisão seja algo parecido com o que supostamente é o inferno. Qualquer pessoa que ganha a vida de forma honesta e é vítima ou testemunha de crimes como assalto, estupro, tráfico ou homicídio pode cair nessa tentação. Felizmente, bastam alguns momentos de lucidez para entender que isso é vingança e que ela não é uma boa aliada no enfrentamento à violência.
Segundo um levantamento realizado pelo Departamento Penitenciário Nacional, o número de presos no país é de 725 mil pessoas, sendo que nosso sistema carcerário oferece, oficialmente, pouco menos de 370 mil vagas. Ou seja, a taxa de ocupação no xilindró chega a quase 200%, com 80% dos estabelecimentos superlotados. Em torno de 40% dos detentos cumprem prisões provisórias, isto é, são pessoas encarceradas que ainda não foram julgadas. Se fossem, muitas possivelmente nem estariam nas celas.
Outro dado importante: o crime mais comum pelo qual essas pessoas estão presas é o tráfico de drogas. Do total de apenados, 55% são jovens de 18 a 29 anos. Em geral, desempregados, com baixa escolaridade, que encontraram na venda de maconha, crack, cocaína e outras substâncias a forma mais simples de ganhar a vida ou manter o próprio vício. Se você usa drogas, ainda que de forma “recreativa”, tem tudo a ver com isso, não se esqueça.
É possível recuperar um criminoso? Na cidade de Key West, na Flórida (EUA), uma iniciativa curiosa sugere que sim. Presos do condado de Monroe vão regularmente ao Sheriff’s Animal Farm – uma espécie de zoológico, para cuidar de animais abandonados. O programa começou quando os xerifes passaram a cuidar dos patos que atravessavam a rua perto do lago próximo ao centro. Hoje são mais de 150 animais, incluindo tartarugas, jacarés, cavalos, cobras, lhamas, tatus e uma simpática e… l e n t a… preguiça.
Segundo a xerife Jeanne Selander, os bichos estão transformando a vida dos condenados. “Já vi muitas mudanças de personalidade incríveis”, afirma. Os presos se tornam mais tranquilos, alegres, receptivos e otimistas. É como se a troca de afeto com os animais recuperasse, em parte, a humanidade que perderam na rotina criminosa. Os resultados aparecem na queda radical das brigas na prisão e numa forte redução na reincidência, depois que zeram sua dívida com a sociedade. Então, a resposta é SIM, É POSSÍVEL RECUPERAR UM PRESO.
No Brasil, verdade seja dita, muitos apenados já trabalham para reduzir a pena, mas dentro da prisão, em tarefas de manutenção dos prédios, na limpeza, na cozinha e na fabricação de itens como bolas e roupas. Contudo, é praticamente impossível a interação com animais, embora haja milhares deles nas ruas, abandonados, prontos para trocar afeto por cuidados.
Agora imagine se as grandes estruturas, com milhares de vagas, fossem substituídas por unidades menores, que recebam apenas os bandidos daquela região, não seria tudo mais fácil? É uma mudança de modelo, que custa caro – não há como negar. Infelizmente, muitos não concordam com esse tipo de investimento. Acham melhor continuar empilhando presos, tratando-os como bichos, esquecendo-se de que, um dia, eles vão sair. E quando isso ocorrer, será a vez deles de se vingar. Adivinhem quem conhecerá o inferno.