Numa época em que a TV tinha imagem preta e branca e não havia videogames, internet e nem smartphones, as brincadeiras mais comuns da criançada exigiam relativo preparo físico. Pular corda, esconde-esconde, jogar caçador ou futebol, descer lomba a bordo de precárias “canoas” de coqueiro eram divertimentos que eu só podia acompanhar à distância. Em contrapartida, muito cedo, antes mesmo da escola, tive o primeiro contato com os livros. Fui drogado em gibis. De todos os tipos: da Turma da Mônica ao Tio Patinhas, do Superman ao Snoopy. Enquanto os outros corriam atrás da bola, eu lia.
Mais tarde, já na escola, conheci a Série Vaga Lume. Devo ter lido todos, ou pelo menos os que chegaram às minhas mãos. Eram histórias simples, mágicas, que atiçavam a imaginação, como “O escaravelho do diabo”, “O mistério do cinco estrelas”, “O rapto do garoto de ouro” e “Sozinha no mundo”. Foi nessa época que aprendi a associar autores e tipos de obras, ao descobrir que os livros de um tal de Marcos Rey eram sempre boas histórias policiais.
Na minha lista de infância, não podem faltar “O menino do dedo verde”, “Pequeno príncipe”, “Os meninos da Rua da Praia” e tantos outros que ajudaram a moldar meu caráter. À medida que os anos passavam, foram surgindo obras mais densas, tanto da literatura nacional quanto estrangeira. Sempre gostei de Jorge Amado, Érico Veríssimo, Moacir Scliar, Fernando Moraes, Charles Kiefer, Josué Guimarães… Como esquecer Edgar Allan Poe, Agatha Christie, Eduardo Galeano, Garcia Marquez e… ok, eu confesso, Sidney Sheldon?
Sorte a minha ter uma prima generosa, que até hoje abastece minhas prateleiras com verdadeiras pérolas do conhecimento. Obrigado, Daice! O ato de ler transforma as pessoas. Ao mesmo tempo em que a leitura escraviza quando a obra é bem escrita, o livro liberta, porque dá a cada um a oportunidade de conhecer diferentes versões e olhares, a se entender e a compreender o outro. Mostra às pessoas que elas podem – e devem – mudar de opinião quando são convencidas por argumentos sólidos. Que não é demérito ser um revolucionário na juventude e, mais tarde, ver o mundo de forma mais objetiva e prática. Não, isso não é traição!
É por isso que bibliotecas são tão importantes. Todas elas, mas quero referir-me a duas em especial. A primeira é a Biblioteca Pública de Kansas City, nos Estados Unidos, considerada uma joia rara da arquitetura. Criada em 1873 e reformada em 2004, sua fachada é composta por uma imitação de 22 lombadas gigantes de livros, que medem 7,5m de altura por 2,70m de largura, representando títulos significativos de diferentes áreas da literatura. Apaixonante!
Óbvio que, num país rico como os Estados Unidos, é mais fácil construir monumentos deste tipo, mas é justo esperar que cada cidade, mundo afora, tenha também o seu templo para o conhecimento, para os livros. E aí falo da segunda biblioteca, a nossa, a pública, que está fechada desde o fim de 2012. A Administração Municipal prometeu devolvê-la à cidade como um presente de aniversário, no dia 5 de maio, mas não vai cumprir a promessa porque a entrega do elevador atrasou. A previsão agora é junho, mas como já são sete anos de espera, a gente só acredita vendo. Ou lendo!