Saudade

Tem dias que a saudade aperta. Simplesmente bate à porta. Ou, melhor, quem dera batesse. Se assim fosse, quem sabe, daria chance de escolha.
Não são raras as vezes em que estou frente a quem busque a cura para a saudade. Não sei se por azar ou sorte, a saudade não é doença. Mas, se fosse, não causaria nenhum espanto.
Ela é descrita como sentimento. Nostalgia e melancolia relativas à ausência lhe são atribuídas. Nada mais redutível, pobre e desestimulante. Não gosto desta versão que carrega apenas dor.
Prefiro a forma dos antigos alquimistas. Diziam eles que veneno e remédio estão no mesmo frasco. Assim pensando, esta “fórmula” traz um alento. Se vai “matando aos poucos”, também pode trazer a “cura”. Se de saudade se morre, pode-se ir, aos poucos, revivendo.Dado que “nela se encontra um importante remédio”, ele não poderia ser outro, senão o da vida.
Associar a saudade somente ao passado soa quase como piada. Seria como querer mostrar a imagem total de um quebra-cabeças de mil peças usando uma peça só. Nem pensar! Não dá conta do todo.
Saudade fala tanto do presente quanto de passado. É a própria história sendo estabelecida no agora. Ela tem começo e meio; nem sempre tem fim.
Penso que a palavra saudade, por mascarar a profundidade da experiência, carregue um pouco de fraqueza e covardia. Fraca, no sentido de não dar conta de tudo o que faz sentir. Covarde, por não contemplar toda a intensidade dos sentimentos que carrega.
O tamanho da distância nem sempre corresponde ao tamanho da dor. Há “longes” tão perto… Outros “perto” tão distantes…
A palavra saudade é sem tempero, sem cheiro, sem gosto. A saudade sentida tem.
Para mim, a saudade tem “status” de sagrada. Fala de coisas vindas da alma. Alimenta esperança e fé. Nela sempre há uma oração. Vários pedidos. Um grande desejo.
A prova de que a saudade é sagrada é o seu poder de driblar o tempo. Ignora o Cronos. Deixa-o sem nada entender. Cada dia riscado no calendário se desdobra em dois ou três…
Mas, voltando aos velhos alquimistas… se a saudade é remédio, é ela que devolve a vida. Tira mais cedo do sono, sabedora do que vai ver. Devolve a alegria. Decora a casa. Coloca tudo de volta em seu lugar. Põe flores nos vasos e capricha no tempero. Perfuma o quarto e arruma a cama.
Cada saudade tem um nome e uma história para contar. A minha, tem um desfecho: minha saudade se desfez no instante em que vi o brilho dos teus olhos.
Se despediu, no momento em que, junto ao teu peito, me diluí no teu abraço.
Paz e bem!

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