Sala de espera

Um local para mais de cem pessoas. Uma placa solicita silêncio. Outra, proíbe o uso do celular e aparelhos eletrônicos. Parecem de nada servir.
A senhora, sentada de frente às placas, a pleno volume, assiste ao vídeo de um homem falando sobre a reforma da previdência. Do canto da sala, é possível ouvir perfeitamente. Fala somente sobre vantagens. Ela move a cabeça afirmativamente.
Faz lembrar de um antigo programa de auditório no qual uma criança, de dentro de uma cabine hermeticamente fechada, deveria responder sim ou não ao apresentador. Este, propôs a troca de uma bicicleta ou algo de valor por uma chupeta usada. A criança, “surdamente”, respondeu “siiimm”.
O rapaz de terno e gravata fala alto ao celular, enquanto digita freneticamente no notebook. Parece não ter tempo para se preocupar com quem realmente deve acompanhar.
A sala de espera do hospital é um local de pluralidades. Gente de todo o tipo. Entra e sai, a todo momento.Mas, também, um lugar de fortes emoções.
O casal, próximo da janela, permanece em um silêncio assustador. Enquanto aguardam pela filha, parecem buscar esperanças no abraço e no olhar um do outro. Comovem a quem tem um mísero segundo para observar.
O moço do celular, algumas horas depois, pode ser visto chorando junto a um grupo de pessoas.
É possível diferenciar quem, dentro de pouco tempo, estará do outro lado da porta. Os pacientes usam uma pulseira e logo são chamados. Quem fica “do lado de cá” precisa ser tão “paciente” quanto os “do lado de lá”. Resta lidar com o tempo. Ninguém sabe o que se passa do outro lado.
Enquanto isto, a senhora da “fronteira”, que aguarda pelo término da cirurgia do marido, aproveita para puxar conversa com uma das poucas pessoas que não estão entretidas com o celular.
Um lugar de tensão. De onde se entra e sai, sempre às pressas. Aqui, o tempo se deforma. Segundos levam minutos e facilmente se transformam em horas.
Pessoas que nunca se viram se tornam a melhor companhia. Trocam informações, dão aquela “reparada” na sacola do outro. Sugerem uma caminhada para “esticar” as pernas. Histórias que se comparam e se misturam, até que sejam instantaneamente separadas pela atendente chamando pelo “familiar do fulano”.
Talvez, a angústia seja um dos sentimentos mais difíceis de se lidar aqui neste lugar. Nada é exato. Só há esperança e espera.
Do outro lado da porta, um amigo, um parente, um grande amor. No final, seja de qual lado da porta se está, o que mais se espera é um “Está tudo bem”.
Paz e bem!

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