Frequentemente, tenho trabalhado, por meio de palestras, com grupos de casais. Como questão central, desenvolvo o tema “relações & alma”.
Um dos conteúdos que acabo abordando, invariavelmente, é sobre o risco psicológico ao qual se expõe, quando uma das partes do casal se anula, para adaptar-se ou enquadrar-se à vida ou às necessidades e caprichos do outro.
Um tópico delicado, especialmente para jovens casais, que recém ingressam na vida matrimonial. Algo que tenho notado se intensificar com o passar do tempo é o espanto com o qual recebem esta questão.
Cada vez que inicio este tema, não posso deixar de perceber a atmosfera que, imediatamente, toma conta do recinto. Há um silêncio carregado. Corpos paralisados.Olhares longínquos. Tal como quem reconhece uma verdade, mas precisa utilizar-se de um subterfúgio para “não dar com a cara no muro” da realidade. Rostos que produzem um sorriso azulado – como diriam os alquimistas. O azul alquímico que fala das almas sem movimento.
Um assombro que (possivelmente) não seja causado pela obviedade que o tema (aparentemente) carrega em si. Tampouco, pelo “estrago” que produz dentro de algum tempo ou após separações, mas (talvez) pelo que ele exija.
Muitas pessoas não suportam a ideia de algo que demande uma mudança de atitude. Toda mudança requer (em certo nível) um “abrir mão”. Então, de forma instantânea, o corpo responde com um “melhor abstrair”.
Esta observação me fez lembrar de dois ditados populares. O primeiro diz que “querer é poder”. Fala sobre possibilidades.
Em se tratando das relações humanas, quando o querer (mesmo que de forma inconsciente) atende apenas aos desejos do Ego, certamente, de forma contraditória, terminará por exercer uma “relação de poder” e não de possibilidades.
O segundo, diz que “querer NÃO é poder”. Especialmente, na vida do casal, quando o querer se torna cuidado, entendimento e aceitação do outro tal como ele é, o “poder” se dissolve e, novamente, dá-se uma enantiodromia: o amor se realiza através do “não querer”. Então, a maturidade emocional do casal se materializa.
Deixo aqui um pensamento de Carl Gustav Jung, fundador da Psicologia Analítica, que assim define esta relação entre amor e poder:
“Onde o amor impera, não há desejo de poder; e onde o poder predomina, há falta de amor. Um é a sombra do outro.”
Paz e bem!