“O Senhor da guerra não gosta de crianças”

Uma das responsabilidades de um exército é garantir a soberania de uma nação.

A nível psíquico, esta possibilidade também existe?

Ingmar Bergman, cineasta e dramaturgo sueco, falecido em 2007, conta que quando pequeno, seu maior sonho era ganhar um cinematógrafo. O dispositivo fotográfico, aperfeiçoado pelos irmãos Lumière, era capaz de reproduzir uma sequência de imagens fixas dando a elas movimento, o que causavam Bergman tremendo encanto.

Chegada a noite de Natal, debaixo da árvore, entre os presentes, lá estava a caixa com o cinematógrafo. Inicia-se a distribuição e, para sua surpresa, seu irmão é quem recebe o cinematógrafo. Segundo seu relato, nada poderia ter sido mais humilhante: “Além de não receber o cinematógrafo, me deram um urso de pelúcia.”

Inconformado, ele chora, apela para todos os dramas possíveis.Consegue apenas, como castigo, uma ida mais cedo para o quarto. Mas não desiste. Ao acordar, dá sua cartada final. Como ambos colecionavam soldadinhos de chumbo, disputando pelo maior número, não tem dúvida: oferece todo seu exército em troca do cinematógrafo. Seu irmão, imediatamente, aceita a permuta.

Muitas vezes, tal o pequeno Bergman, temos um sonho. Alimentamos fantasias, criamos expectativas, fazemos planos… Porém, nem sempre estamos dispostos ao principal: entregar aquilo que temos em troca. E, simbolicamente, a metáfora dos soldados é muito interessante: ele entrega o exército inteiro, se desarma, abre as defesas.

Uma das leis que regem a alquimia é chamada de “lei da troca equivalente”. Ela preconiza que “Direitos são dados no preço do dever”; que “Nada pode ser obtido sem sacrifício.”. Para que se alcance algo, é necessário oferecer em troca alguma coisa do mesmo valor.

Uma vez que soberania é uma condição e atributo derivado de autoridade, que aponta para domínio e poder, psiquicamente, remete diretamente ao Ego.
Para Jung, o pai da psicologia Analítica, a busca da totalidade sempre irá, em algum nível, requerer uma renúncia no plano Egóico. Na história de Bergman, vemos na prática como este conceito se processa. Não é choro ou o desespero que o levam a atingir o que tanto almeja, mas abrir mão daquilo que, aparentemente, lhe era mais valioso até aquele momento.

Então, quando não atingimos aquilo que tanto buscamos, do que afinal, não estamos nos permitindo abrir mão? Qual é o “tesouro” guardado por nosso exército e que ainda não admitimos, de forma alguma, entregar?

Paz e Bem !!!

Últimas Notícias

Destaques