Estávamos em visita na casa de familiares. Após o café da manhã, na TV, passava um programa de entrevistas.
A apresentadora falava sobre “geração Y”. Um especialista comentava o assunto. Foi quando a coisa toda chamou minha atenção. Entre muitas observações questionáveis, ele disse o seguinte: “…funciona assim por esta ser uma geração que não conhece a fome”.
Minha primeira observação sobre aquele comentário é a de que falhamos. Falhamos em olhar para o outro. Falhamos a cada vez que narramos o outro a partir da observação contaminada da nossa “bolha”. O especialista, da mesma forma que uma boa parte da humanidade, desconectou-se da ética do outro. Logo, também falhamos quando aceitamos este tipo “avaliação”.
É uma tendência, quase natural, que o ser humano se organize em grupos. Que afinidades tenham muito valor sobre estas escolhas. Mas quando foi que os cérebros se fecharam? Quando foi que nosso egoísmo transformou estas bolhas, nas quais vivemos, em virtuais realidades? Quando se tornaram a única forma de enxergar o mundo?
Julgar ou atribuir “verdades” a partir de uma ou outra realidade não confirmam nossa verdade sobre o outro. Denunciam um fracasso em relação a si.
A evolução financeira não aproximou o ser humano da sua tão discutível “humanidade”. A religiosa, tampouco. Oferecem muito pouco, além de um mínimo de conforto àqueles que lhes dobram os joelhos. Cedo ou tarde, esta ou aquela, tentam impor sobre o coletivo seu fanatismo, o convencimento e a condenação do que lhe parece diferente. Estas e outras: apenas bolhas!
O que resta, como esperança, então? Aposto na evolução do Ser a partir das suas próprias dores e dificuldades. Óbvio que quando elaboradas através do trabalho da consciência.
Há tempos escrevo sobre o enfrentamento dos próprios dragões. É nesta batalha que há um recolher-se silencioso sobre o trabalho de si. O artesão precisa de alma sobre o seu fazer. Entre o martelo e a bigorna, está o fruto do trabalho do ferreiro. Tudo o que produz como único lhe acrescenta valor.
Este é o trabalho da alma. Trabalhar a Si, em silêncio. Nos recantos e labirintos do próprio ser.
Na diferença, reside a especificidade de cada alma. Uns têm o dom para transformar o mundo. Mas todos, a difícil missão de evoluir a Si.
Precisamos, cada vez menos, de “especialistas de bolhas”. Toda real mudança parte de um trabalho sobre Si. Não há mais espaço para “generalismos”, quando se trata de seres humanos. Aliás, generalismo rima com charlatanismo.
Paz e bem!