O cavalo e a montanha

Conta uma antiga lenda que um pequeno vilarejo era envolto por um mistério. E ele se dava por conta de um cavalo e uma grande montanha. A montanha era assustadora. De formação rochosa e sem um pedaço plano sequer. Aventurar-se por ela era flertar com a morte. Uma queda poderia encerrar em um trágico final, em qualquer uma das incontáveis pedras pontiagudas. Anoitecida, inóspita, sem vida. Um lugar a ser esquecido, não fosse pelo cavalo que era avistado por lá.
O animal era imponente, de beleza incomum. Despertava o desejo de moradores e de forasteiros que, sem sucesso, tentavam captura-lo. Ninguém voltava de lá. O tempo só aumentava a má fama e o mistério do lugar.
Certa vez, um velho monge, cansado de uma longa jornada, decidiu passar um tempo no vilarejo. Não precisou de muitos dias para saber sobre o mito que rondava o lugar. Passou a observar a montanha, conversar com os nativos, até o dia em que avistou o cavalo.
Exatamente como ouvira nos relatos, o cavalo mostrou-se dócil e amigável. Viu-se tentado a montar o animal. Em poucos segundos entendeu o drama de todos até então. Ao ser montado, era como se o cavalo mudasse de personalidade. Relinchava e girava sobre as patas intensamente. Mesmo desconfiado, o monge decidiu “pagar para ver”.
Percebendo que o monge não desistia, o cavalo iniciou um trote rápido em direção ao topo da montanha.Sua habilidade e força faziam sua fúria e velocidade aumentarem cada vez mais. Este era o momento no qual muitos saltavam do cavalo.
A reação humana é de proteção. Todos, até ali, tentavam desviar o rumo ou diminuir a velocidade do cavalo – o que não causava efeito algum.O animal era extremamente forte e não havia recursos, a não ser rédeas improvisadas.
O monge logo percebeu a situação. Sabia que não poderia lutar contra a natureza do cavalo e passou a bater com os pés na barriga do animal,fazendo com que ele corresse mais rápido ainda. Para espanto de todos, ao final do dia, o monge chega ao vilarejo, montado no cavalo.
Ninguém havia sido vencido pelo cavalo e pela montanha. O que vencia aquelas pessoas sempre fora seu próprio medo.
Assim fazemos, quando tentamos segurar à força uma situação precária, quando insistimos em uma versão insustentável dos fatos, quando vamos contra os sinais que a vida dá.
Mesmo sem perceber, sempre há algo maior acontecendo ao nosso redor. A vida não se restringe ao campo de visão dos nossos desejos, medos e inseguranças.
Paz e bem!

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