Não acabou

Novamente, este mês foi marcado pela campanha “Setembro Amarelo”. Mesmo se encerrando, a campanha de conscientização sobre o tema do suicídio não acabou. Possivelmente, nunca termine.
Falar é preciso, mas não sob a ótica da simplificação. Toda escuta deve ser qualificada. Mesmo entre profissionais preparados, o suicídio é um tema caro. Mexe com o que há de mais íntimo em cada ser.
Em 1964, James Hillman alertou que esta questão requer uma atitude objetiva: “…objetividade significa abertura; e abertura a respeito do suicídio não é uma coisa facilmente conquistada. A lei considera-o um crime, a religião chama-o de pecado e a sociedade volta-lhe as costas. ”Logo, “…abertura face ao suicídio significa, antes de mais nada, um movimento em direção à morte…”
Neste momento da história, vemos um passo ainda tímido, mas de extrema importância. De forma especial, por conta da campanha que avança a cada ano.
Um mês para trazer à luz da consciência um tema “guardado na escuridão”. O amarelo é a cor justa para representar a conscientização. Na simbologia, é a cor solar de Apolo, deus da sabedoria e da consciência. Ainda que representado por ela, não cabe em uma cor.
A diversidade humana, tal qual a paleta de cores de um pintor, requer ser entendida em todos os tons. O próprio suicídio tem muitas cores. Todas igualmente mortais.
Do branco, um “puro” sem vida, que não se permite viver. Repleto de não existir.
O amarelo, de Ícaro, que nega a sabedoria e ruma inconsequentemente à morte.
O vermelho, das mortes violentas. Dos “acidentes”, das armas de fogo, das automutilações. Mortes sangrentas.
O azul depressivo da profundeza oceânica; cor da personagem Tristeza, do filme Divertidamente.
O verde da putrefação que decompõe a esperança em espera sem sentido.
O preto que nega a luz e o colorido da vida. A cor do Anjo-da-morte com sua foice.
Cada cor uma história, uma intenção; segredos. Mas podemos avançar.
Quando vamos “sentar” com nossas crianças e conversar sobre a morte? Quando ouviremos as angústias dos jovens em relação à vida? O que podemos oferecer para o nosso presente, além de uma vida que empurra forçosamente à morte?
Não há como lidar com o suicídio sem transitar pela singularidade da alma. E não é possível percorrer este caminho sem os pés descalços. Sem despir-se da couraça imposta pela roupagem do mundo. Do que é produzido em série, para multidões.
A morte jamais será contida pelas molduras da vida. Tampouco a vida, limitada pelas molduras da morte.
Paz e bem!

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