Inferno

Fui deitar depois da uma hora da madrugada.
Havia me programado para acordar um pouco mais tarde. Lembro de ter olhado para o relógio, pela última vez, faltando dez minutos para as duas horas. Um pouco depois, fui acordado pelo estrondo de um acidente de carro. Mais um tempo; um sabiá cantava a “plenos pulmões”, junto à janela do meu quarto. Outro instante, o intenso faixo solar entrava pela porta aberta.
Rolei na cama por alguns minutos, na esperança de embalar o sono. Foi quando um grilo resolveu “se coçar”. Fim de papo. Decidi não lutar contra a natureza que insistia para eu levantar.
Um incomum silêncio me fez lembrar que era domingo. Não precisaria ter acordado tão cedo. Mas devia escrever a crônica para o jornal e o assunto escolhido trataria sobre o inferno. Calmamente, bebi meu café.
Deste momento em diante, poderia ter sido um dia tranquilo; até que resolvi pegar o celular e verificar as mensagens da noite anterior.
Abro o aplicativo de uma rede social. De cara, um vídeo, com uma publicação patrocinada.
Uma mocinha sorridente, iniciou com um sonoro: “Gêêênnntiii, tô aqui pra fazer você feliz. Te prometo, você não vai se arrepender. Chega de dor.”. Mais uma destas “figuras” de vinte e “muitos-poucos-anos”, vendendo a forma correta de como se obter verdadeira felicidade.
Não tenho palavras para descrever a cara que provavelmente fiz. Alguma coisa naquele vídeo não combinava com meu início de dia.
Acessei os comentários da postagem. Havia um que dizia: “Parabéns, pessoas como você são responsáveis por tornar a vida de outras um tormento.”.
Refleti.
Recentemente, por ocasião do XXV Congresso Brasileiro de Psicologia Analítica, tive a oportunidade de assistir à palestra de Vherá Poty, um índio Guarani. Uma figura incrível.
Das tantas experiências que compartilhou sobre seu povo, uma voltou aos meus pensamentos:“A dor é natural”.
Mas não quero deixar fugir meu objetivo inicial de falar sobre o inferno.
Alguém pode perguntar se eu realmente acredito nele. Diria que não, do jeito que aprendi! Mas, acredito que exista. Com a enorme chance de estar sendo vivido exatamente agora.
Diferente daquele em brasas e com um “senhor” chifrudo reinando, a impressão que tenho de um inferno real é que ele habite na ilusão. Que seja belo e com coisas que se repitam insistentemente.
E quanto ao diabo, ou seja lá o nome que você queira dar, acredito que deva ser uma destas pessoas com aspecto encantador, bem apresentadas, que vivem tentando vender a felicidade absoluta.
Paz e bem!

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