Dando sequência aos últimos textos, trago mais algumas reflexões.
O Humano tem, normalmente, um papel secundário nos contos mitológicos gregos. Fato que não o torna descartável. Os deuses mitológicos procuram a figura humana para se relacionar. O Humano, igualmente, olha para os deuses e os invejam. Quer seu lugar. Deseja ardentemente seu néctar e sua ambrosia. Deseja sua imortalidade.
Se a imortalidade é a característica que mais se evidencia nos deuses, o Humano é aquele que não consegue ultrapassar os limites do seu próprio mundo físico e psíquico. Está fadado à mísera condição que sua degradada linhagem preconiza.
O Humano é o que é. Apenas isto. Cada qual, um pedaço do barro e da chama dos quais foi criado. Humanos pela natureza e sagrados pela consciência do Self (o arquétipo da totalidade do psiquismo). Quando afastado da sua origem (o comum), o barro do qual foi criado (a prima matéria), também se afasta de si e do mito pessoal (o que poderia salvá-lo). Arquetipicamente, o humano carrega em si esta função de “ser o que é”.
Como contado no mito de Psiqué, na atitude há um processo que humaniza. Ela percorre uma jornada sem garantia de chegada, mas necessária. Dado que Psiqué não é divina, carrega a condição humana: será pela realização dos seus trabalhos e por intermédio dos deuses é que será elevada ao Olimpo. É a jornada em busca do que dá sentido que reafirma sua dimensão do Humano.
Este é o universo da Psicologia: as experiências humanas, sua construção e suas relações. Reconhecer caráter metafórico do Humano no mito é reconhecer a si. É uma atitude que pode levar a reencontrar a essência arquetípica que habita a vida de cada ser.
Campbell (2008) aponta que “os problemas psicológicos básicos […] continuam essencialmente os mesmos. Consequentemente, sobretudo, é da perspectiva psicológica que se pode reinterpretar, reviver e reutilizar as grandes tradições míticas que as ciências e as condições da vida moderna tornaram inúteis, por estarem desligadas dos seus pontos de referência cosmológicos e sociológicos”.
Daí resgato outras três citações de Campbell: 1 – Quando você desperta no nível do coração, para a compaixão e o sofrimento da outra pessoa, este é o início da humanidade. 2 – Não é possível se relacionar com uma coisa da qual não se participa. 3 – Todos os símbolos da mitologia se referem a você.
Neste lugar doHumano, há algo que não se encontra em nenhum outro: Humanidade – mas ela precisa ser conquistada.
Paz e bem!