O tempo estava curto. Era preciso escolher entre um banho ou comer algo.
Os dissabores do dia tornaram mais atraente a geleia de morango. Combinou perfeitamente com o bolo de milho ainda quentinho. Bastou sentir o cheiro para encher a boca d’água.
Foi a lei da gravitação que acabou com toda a magia do breve momento. Por descuido, o bolo “lança-se” ao chão. Um pensamento rápido tenta-a: juntar a única refeição das próximas horas e jogá-la à boca. Não tem coragem.
Ao chegar na faculdade, encontra algumas colegas. Saem juntas do estacionamento. É quando uma delas oferece um tira-gosto que traz junto ao chimarrão. É vencida pela afobação. O pacote que envolve a paçoca se rasga e ela cai da sua mão. Como que por instinto, agacha-se e junta o maior pedaço. Seu senso de higiene prevalece sobre a fome.
Na sala de aula, conta sobre os dois incidentes às colegas. Uma delas, sensibilizada, tira da bolsa um pacote de chocolate já aberto. Estende o braço sobre a mesa e o oferece à amiga.
Uma alegria inigualável toma-lhe o rosto. Agradece gentilmente e, como que em câmera lenta, leva-o à boca. Só não esperava que a amiga, ao recolher o braço, esbarrasse na cuia, fazendo a maior lambança. Parece não acreditar, ao ver o chocolate que levava à boca caído ao chão.
Dois segundos de perplexidade. Um de observação. Outro de um movimento extremamente rápido. Antes que o quinto segundo se complete, está saboreando aquela delícia de cacau com avelãs. Ao perceber que suas colegas a observam atônitas, sem constrangimento, esclarece:
– Lei dos cinco segundos!
Estudos, como o realizado pela Scientific American, foram a fundo na busca sobre a verdade. Testaram tudo detalhadamente: tipos de alimento, intensidade do impacto, tempo de contato, tipos de contaminantes, rugosidadedas superfícies. Tudo! Todos confirmaram que a “lei dos cinco segundos”, na verdade, não passa de um mito.
Espantosamente, 87% dos participantes de uma pesquisa afirmaram já ter se valido da regra em algum momento. Está “no sangue”. Precisamos de mitos. Nos alimentamos deles. Principalmente, quando “famintos”. Mesmo sendo falsos, carregam a verdade que queremos. Servem para validar intenções.
O exemplo que citei mostra que vamos nos acostumando com o que pode nos fazer mal. Vamos flertando com o perigo, até o dia que nos faça um mal irreversível.
Não é preciso nenhum estudo para concluir que, na maioria das vezes, a ignorância é muito mais letal do que uma colônia de bactérias.
Paz e Bem!