Mesmo com todas as ressalvas e limitações a grandes públicos e aglomerações, sempre gostei de caminhar por onde há gente.
As calçadas da minha cidade pedem certa dose de técnica e atenção. Há lixo amontoado pelo chão, algumas com buracos ou sem manutenção. Aqui, pertinho do meu trabalho, o esgoto escorre sobre o passeio. Inevitável não precisar desviar destas armadilhas e das fezes de animais. Tudo isto, em pleno centro.
Lembro do tempo em que era possível dividir as calçadas com outras pessoas. Hoje, existe uma certa disputa. Principalmente, por conta de ambulantes e lojistas que, trazendo seus produtos para fora das lojas, acabam “colaborando”.
Porém, algo que nunca mudou foi a magia presente nas pessoas. Uns, caminham com tanta pressa que passam pelos amigos sem percebê-los. Há quem ande tão triste a ponto de revelar suas dores e tristezas. Os grupos sempre são os mais divertidos: duas, três conversas paralelas, muitos risos e gestos extensos.
Um bom número de pessoas já nem ergue mais a cabeça. Estariam ensimesmadas, entristecidas, desesperançadas?Pelos meus cálculos, há gente demais olhando para o celular. O que ainda dá esperança são alguns olhares simpáticos. Os empáticos, totalmente escassos. Raros e caros, bons-dias.
Certa manhã, ao passar por um destes inconvenientes “anexos de loja”, que avançam sobre os estreitos passeios, dividi o espaço que sobrava com duas senhoras. Recuei um passo. Passaram espremidas à minha frente. Pude ouvir o que uma delas dizia: “Tudo por causa do Natal. ”
Logo, me peguei a refletir sobre o que ouvi.
Ela falava sobre os amargores da vida ou estava sufocada pelo espaço que não mais encontra para caminhar?
As calçadas da vida estão cheias de motivos para desviar nossa atenção. Mas a magia e o encanto seguem vivos no caminhar. Se a desesperança vai esfriando tudo o que toca com sua mão gélida, alimentar no coração aquilo que é elevado vai devolvendo vida, cor e um pouco do calor humano. Desacreditar é só uma forma de não lidar com a realidade.
Qual seria o verdadeiro Espirito do Natal, senão encontrar a esperança? Esta mesma que vai sendo, com o passar do tempo, consumida pelo descuido. Esta que caminha conosco e que passa despercebida ao olhar.
Quem não a percebe ao longo dos outros trezentos e sessenta e quatro dias do ano, dificilmente vai encontrá-la na noite de Natal. Esta não é uma festa para fazer nascer a esperança; é para celebrá-la.
E ela está viva pelas ruas da cidade nas calçadas do nosso caminhar…
Paz e bem!