Sorte e sorteio

Até um relógio quebrado estará certo duas vezes ao dia.
Ouvi a frase acima num filme. Sabe que faz sentido. Um relógio de ponteiros – preciso esclarecer, pois alguns mais novos só conhecem os digitais – marca 720 posições diferentes no espaço de 12 horas. Ou seja, se colocarmos um relógio funcionando ao lado de outro quebrado, em algum momento, eles estarão iguais. Num dia, serão dois momentos desses. Parece óbvio demais e talvez você esteja pensando que estou enchendo linguiça. Na verdade, quero comparar a situação do relógio quebrado com algo mais humano: os sorteios.

Eles vão desde os midiáticos globos da Mega-sena, até os papeizinhos num saco de alguma “Ação entre Amigos”. São emocionantes os sorteios presenciais em eventos, que podem ser com números, sorteando a unidade, a dezena, a centena, e assim vai, até formar o número vencedor. Nesse caso, a dor é quando o último número sai diferente do seu, tipo 3.654 contra o 6.654 do seu bilhete.

Igualmente divertidos são os sorteios onde cada participante tem o seu nome num cupom. Quando um é sorteado, o silêncio toma conta do ambiente. A expectativa pela leitura do vencedor prende respirações. A pessoa responsável por ler o cupom faz uma pausa dramática; dá aquela apertada na vista, como se não conseguisse ler. Aqueles com letra feia sentem esperança: – Deve ser meu nome, ele não está entendendo meus garranchos.

Engraçado é quando o sorteio requer que o ganhador esteja presente. O pessoal, na ânsia de ganhar, já começa a protestar logo após a leitura: Não está! Já foi embora! Sorteia de novo! No fundo, estão querendo dizer: – Sorteia isso até eu ser o ganhador. Quando finalmente sai o nome de alguém presente, e o prêmio é algo facilmente consumível, como bolo ou bebida, algo incrível acontece. Vários perdedores, ainda com inveja, independente de suas opiniões políticas e econômicas, tornam-se imediatamente “comunistas”. Começam a pressionar o vencedor para que o prêmio seja dividido entre os demais. E nessas horas não interessa se conhece o vencedor ou não. Já que não podem aproveitar o prêmio todo, pelo menos querem uma pequena fração.

Nem sei por que comemoramos tanto um prêmio de sorteio. Ganhar isso não depende de nós, afinal, só colocamos nosso nome lá, como todos os outros. É uma questão matemática, lógica, assim como o relógio quebrado. Uma hora vamos ganhar, do mesmo modo que em algum momento o relógio quebrado estará correto. Um dia nossa hora chega.

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