Nosso lado não; meu lado

Quem acha que pode passar ileso pelo fogo cruzado das discussões sobre temas polêmicos se engana. Um colete de neutralidade revestido de moderação não aguenta a artilharia pesada das partes, formada de crenças pessoais sólidas, valores resplandecentes, informações suspeitas e frases de efeito de origem duvidosa. Mais importante do que escolher um lado para se proteger, devemos pensar no motivo que leva alguém a despejar argumentos defendendo seu modelo de mundo ideal quando diante de alguém que pensa diferente.
Antes, um teste. Imagine que você deve fazer uma longa viagem, de carona. Existem três motoristas à sua escolha, mas todos viajam com música alta. Um escuta rock, o outro sertanejo e o último ouve música gauchesca. Qual escolheria? Só continue lendo se já pensou na resposta. Agora, responda o seguinte: qual dos estilos acima você normalmente ouve no carro? Suspeito que acharam duas respostas idênticas.
Acreditamos que conviver com pessoas iguais torna nossa vida melhor, pois diminui as chances de desentendimentos. Brigar cansa. Não apenas fisicamente, quando saímos no braço, mas toda e qualquer discussão verbal já libera adrenalina no sangue, além de gastar energia pensando no que dizer durante o bate-boca. Entre iguais, há paz e concordância, o que levaria inevitavelmente ao progresso. Nem sempre.
Vamos pegar o Grenal como exemplo. Digamos que você seja um torcedor fanático e não perde a oportunidade de espalhar aos quatro ventos o quanto o seu time é superior ao rival, independente de qual seja. Imagine que seus argumentos sejam tão bons que as pessoas comecem a concordar e, consequentemente, a torcer por seu time. Todos os gaúchos se convertendo para o mesmo clube. Logo, ele seria o único no Estado e não teríamos mais o Grenal; nem Gauchão. Só sobrariam os torneios nacionais. Agora visualize seus colegas torcedores reproduzindo seus argumentos inquestionáveis Brasil afora. Clubes falindo enquanto o último do RS ganha mais e mais sócios. Adeus Copa do Brasil, Brasileirão e todo o resto. Sobraria apenas a Libertadores para o único clube brasileiro, mas aí seus argumentos absolutos serão traduzidos para o espanhol e, bem, você já entendeu.
Tem coisas que só existem graças à diversidade de pensamento e o progresso é um deles. A luta pela padronização esconde algo que ninguém admite, nem para si mesmo. Agimos como se fôssemos o exemplo a ser seguido, o ser humano perfeito. Em última análise, não existem grupos ou facções em conflito. Somos todos exércitos de um homem só.

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