Que tiro foi esse?
Não. Pensando bem, me nego a começar essa crônica usando a frase mais manjada dos últimos dias. Até o Gabriel O Pensador já fez uma paródia com ela, onde expõe a violência no Rio de Janeiro. Isso sem falar num texto que circula pelas redes, ironizando o gosto musical duvidoso do brasileiro; texto esse atribuído ao Arnaldo Jabor, mas ele já negou a autoria.
Ainda assim, é quase impossível ficar indiferente ao que ocorre na Cidade Maravilhosa – aproveito o gancho para questionar se o título permanece válido. Pensei: por onde começar?
Poderia iniciar com as algemas nos tornozelos do ex-governador Sérgio Cabral. Para uns, foi exagerado; para outros, uma mensagem necessária aos que ainda seguem o caminho da corrupção.
Falando em corrupção, quem sabe me atreveria a escrever sobre o Vampirão da escola de samba Tuiuti. A criatividade a serviço do deboche. Ironia como método de crítica. E a simpatia do público, conquistada por terem um inimigo em comum. Enquanto isso, os jornalistas nem sabiam o que dizer. Ou sabiam, mas não podiam.
Jornalismo lembra certa emissora de TV. Por seu endereço, acabou levando os temas do RJ para todo o Brasil; de certa forma, desproporcionalmente. A maioria das novelas se desenrola em cenários cariocas; assim como boa parte das notícias. Caso contrário, quantos gaúchos saberiam o que é o Leblon?
Copacabana, Lapa, Rocinha, Maré, Complexo do Alemão. Sabemos mais sobre o que ocorre lá do que no nosso estado. E não é nada bonito. Tentou botar umas UPPs nos lugares mais boca-braba, depois que o exército entrou por uma ponta e os traficantes fugiram pelos fundos, lembram? Tempos depois, o secretário de segurança pública na época das ocupações lamentou não ter atingido os objetivos. Alegou que “há muitos que não querem o fim das favelas, pois da lá vem a mão de obra barata”.
Essas pessoas, vistas por algumas como apenas mão de obra, acabaram por eleger um prefeito pastor. Talvez na esperança de um milagre. Milagre seria alguma mudança. Enquanto as ovelhas eram atacadas por lobos de todos os lados, o pastor estava de férias na Europa.
Depois de o caos estar bem instalado, o governador pediu ajuda. O vampirão, digo, o presidente atendeu. E o exército vai intervir. Na hipótese de que serão bem sucedidos – e espero que sejam – até já posso visualizar os intervencionistas usando essa situação como justificativa para uma intervenção militar nacional. Outros usarão como material de campanha. Outros, como amparo à não inclusão dos militares na reforma da previdência, afinal, eles são os heróis que surgem quando tudo está perdido. Por pior que pareça, toda bagunça favorece alguém.
Pois é, sobre o que vou escrever…