Quem gosta de filmes policiais já deve ter visto alguma cena onde usam um detector de mentiras em quem está sendo interrogado. Ele identifica sutis mudanças fisiológicas naqueles que estão respondendo as perguntas, pois mudamos levemente nosso comportamento quando falamos aquilo que, por dentro, sabemos não ser verdade. Infelizmente, mesmo que o interrogado fale algo que não acuse como mentira, ainda assim, pode não ser verdade.
Dou outro exemplo. Tanta gente conectada a internet, e ainda assim agimos como primitivos. Quando nos chega algum alerta sobre pessoas suspeitas na região, por exemplo, temos o impulso de espalhar a notícia, informando a todos. E vá compartilhamento pelos grupos de Whatsapp. Se pudéssemos colocá-los no detector de mentiras e perguntar se espalharam tais mensagens porque julgam ser verdade, provavelmente todos diriam sim. Mesmo com esse resultado, talvez a mensagem não seja real. Então, como isso é possível? Decerto porque acreditam nas pessoas que lhes enviaram: Se a fulana me mandou, deve ser verdadeiro. Porém, a fulana não conferiu a fonte; apenas repassou porque quem mandou pra ela também era de sua confiança. E assim vai, como um efeito dominó.
Se a máquina identifica quando a pessoa não está mentindo, porque não se chama “detector de verdade”? Porque duas pessoas separadamente podem, para a mesma pergunta, dar duas respostas totalmente opostas, e mesmo assim a máquina acusar que ambos não estão mentindo. Nesse exemplo, cada qual acredita que a sua resposta representa a verdade.
Deve estar aí a raiz de todo bate-boca sobre temas polêmicos. Cada qual defendendo sua interpretação dos fatos, sua opinião, como sendo a verdade definitiva. E quando encontra outro que não compartilha da mesma crença, a discussão é quase inevitável.
Onde está a verdade definitiva, afinal? Talvez em lugar nenhum, dependendo do tema. Assuntos complexos requerem que se leve em consideração uma quantidade tão grande de informação, que seria possível dizer que ninguém conseguirá ter acesso a essa totalidade para só assim formular uma conclusão que poderemos chamar de verdade absoluta. Sendo assim, temos que aceitar que as “verdades” que cada um defende é resultado da escassa, e muitas vezes unilateral fonte de informação que tiveram a disposição para usar como base de suas crenças. A tão defendida empatia, que é a habilidade de se colocar no lugar do outro, pode ajudar. Ao conhecer o outro e aquilo no que ele se baseia para formar suas opiniões, entendemos como ele chegou a tais conclusões; mesmo assim, você, que tem outras informações, pode muito bem discordar. É o caso do “entendo, mas não concordo”. Se a verdade é assim tão difícil de descobrir, não é a toa que as máquinas só detectem, no máximo, as mentiras.