O termo “dividir para conquistar” pode ser explicado pela idéia de que, para conseguir a vitória em algum campo, é necessário fragmentar os grupos que detêm o poder, de maneira que, isolados, não tenham condições de reagir contra quem pretende dominar a todos. Esse conceito parece aplicável às estratégias militares de impérios em expansão, mas talvez essa divisão possa ocorrer mesmo sem a presença de uma força externa que a todos pretende subjugar. Em alguns casos, é provável que o vácuo deixado pela desunião convide o conquistador a se instalar no local. Vamos analisar essa teoria aplicada na segurança pública.
Sabemos que o Estado não dá conta sozinho da tarefa de nos proteger. Mesmo assim, o que estamos fazendo para amenizar essa deficiência? Uma alternativa seria um maior esforço para cuidarmos uns dos outros, sempre alerta a atitudes suspeitas em nossa volta. Ligo para a polícia se vejo um carro estranho na vizinhança, não apenas porque posso vir a ser vítima dele, mas também meus vizinhos. O problema é saber qual o limite entre o cuidado visando à segurança e a invasão de privacidade. Vamos estudar um caso verídico.
Faz mais de 15 anos, um parente teve sua caminhonete roubada no centro da cidade. Um caminhoneiro conhecido disse que foi ultrapassado no mesmo dia pela caminhonete na Tabaí-Canoas, indo em direção à capital. Reconheceu o veículo (pois o modelo e a cor eram pouco comuns), menos os dois ocupantes. Relatou que desconfiou, mas não fez nada (talvez não tivesse celular na época). Agora pergunto para você, leitor: se hoje, com todos os meios de comunicação disponíveis, estivesse diante de um caso idêntico, ligaria para o proprietário perguntando sobre o veículo?
No exemplo acima, essa ligação poderia resultar na recuperação do bem. Mas e se os ocupantes fossem apenas conhecidos do dono que pegaram a caminhonete emprestada? Talvez aí o observador pudesse ser considerado um metido que cuida da vida dos outros. Nesse caso, as pessoas tendem a evitar conflitos com os demais, cuidando apenas do próprio nariz. Mas, assim, o poder da segurança gerado pela união dos vizinhos se perde, aí a bandidagem ocupa esse espaço que, no fundo, foi dado a eles de bandeja.
Olhando por esse lado, não é de se admirar que as pessoas acreditem que a solução para a insegurança seja cada um ter uma arma na cintura. Seriam inúmeros “exércitos de um homem só”, protegendo tudo e todos que estiverem dentro dos limites de suas cercas. Observando isso tudo, não tenho mais certeza se a insegurança aumentou porque o crime ficou organizado, ou foi a sociedade que se desbaratou de vez.