Tubarão, ET e acessibilidade

Steven Spielberg é um monstro do cinema. O diretor coleciona sucessos em uma das mais exitosas carreiras de Hollywood. O primeiro deles, “Tubarão”, foi uma aula de edição e trilha sonora em filmes de suspense, na metade da década de 70. Sete anos depois, “ET, o Extraterrestre” encantou o mundo e novamente abocanhou premiações com a história de amizade entre um menino e um ser de outro planeta. Spielberg retratou com sensibilidade e extrema técnica os horrores do nazismo, em “A lista de Schindler” e a dureza dos combates de guerra, nos hipnóticos primeiros 15 minutos de “O Resgate do Soldado Ryan”. Além do amor à arte, o norte-americano é uma máquina de fazer dinheiro, com sequenciais quebras de recordes de bilheteria.
Pois Spielberg foi notícia nas últimas semanas ao sugerir uma mudança nos critérios para definição de quais produções podem ser indicadas ao Oscar. O alvo é a Netflix, que transmite por streaming para o mundo todo, e que produziu “Roma”, um dos indicados a melhor filme na última edição da premiação e que rendeu a estatueta de melhor diretor ao mexicano Alfonso Cuarón. Steven Spielberg e outros colegas “raiz” entendem que cinema só é cinema de verdade com poltrona, telão, pipoca, ingresso pago, etc.
Então, a Netflix, com todo o respeito a um senhor de 72 anos que domina a sétima arte, respondeu o seguinte: “Nós amamos cinema. Aqui estão algumas coisas que também amamos: acesso para pessoas que nem sempre podem pagar, ou moram em cidades sem cinemas; permitir a todos, em todos os lugares, desfrutar de lançamentos ao mesmo tempo; dar aos cineastas mais maneiras de compartilhar a sua arte.”
Este é o ponto central que Spielberg e outras pessoas ao redor de todo o mundo ainda não se deram conta: essa é a era da acessibilidade, e isso é muito bom. Propiciar, na medida do possível, que a arte e a cultura não estejam nas mãos de uns poucos privilegiados. Que cinema e música cheguem através da internet por preços “pagáveis” através de múltiplas plataformas. No Afeganistão, Uganda ou Suriname. Relaxa Steven. A velocidade das transformações está cada vez mais difícil de ser alcançada, mas ampliar a difusão de conteúdos e informações é um passo importante para o aprofundamento da democracia e redução de desigualdades.

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