Tempos estranhos

Vivemos tempos realmente estranhos. A evolução tecnológica oferece um leque de soluções para os mais diversos problemas de nossos dias. O grande lance, inclusive, é quando uma startup desenvolve a resposta para perguntas que ainda sequer foram feitas. Assim, temos aplicativos para tudo. Calcular a quantidade de carne em um churrasco, monitorar o período fértil, avaliar a performance nas corridas, orientar para que cheguemos ao destino pelo melhor caminho naquele horário, sabendo até onde estão os buracos na estrada, são apenas alguns exemplos do que nos é disponibilizado de forma simples, gratuita e universal.
Karol Conka é uma das mais talentosas cantoras da nova safra brasileira e sabedora da sua representatividade, atua de forma engajada na defesa do respeito às minorias e à diversidade. Karol está namorando, feliz e resolveu postar uma foto com o novo crush. Pronto, o tribunal vitual passou a criticá-la, como se tivesse qualquer influência sobre uma escolha tão pessoal. E tudo porque o rapaz é branco. Exatamente isso. Algumas mentes brilhantes resolveram que militantes negras têm que necessariamente relacionar-se com negros, contrariando justamente a lógica de que as pessoas devem conviver e namorar com quem quiserem, independente de sexo, cor ou qualquer outra segmentação.
Enfrentamos doenças, pestes, moléstias das mais variadas. Entre 1896 e 1970, estima-se que 300 milhões de pessoas morreram no mundo após um surto de varíola. A falta de higiene e condições sanitárias mínimas espalhou o Tifo, ceifando 3 milhões de vidas apenas entre 1918 e 1922. Até 1963, o sarampo era uma das doenças que mais matavam crianças no mundo, até a descoberta da primeira vacina. Graças a pesquisa, evoluímos, vivemos mais e melhor.
E ainda temos dificuldade de aceitar que cada indivíduo é livre e deve fazer o que bem entender da sua vida, se não prejudicar um terceiro. Criticamos uniões e separações com a mesma desfaçatez. Condenamos a escolha por amar e a renúncia à infelicidade. Discursamos pela igualdade e olhamos estranho para casais com maior diferença de idade, classe social ou cor de pele. A ciência progrediu a passos largos no último século e isso vem se intensificando em progressão geométrica nestas primeiras décadas de 2000. Entretanto, tempos estanhos são esses que ainda conservam tanta dificuldade em aceitar que o amor não sabe dividir espaço com qualquer tipo de preconceito ou discriminação.

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