Seguida e repetidamente, pesquisas científicas comprovam algo que temos percebido com clareza e que nos bate à porta sem pedir licença. O sinal amarelo acendeu. O que estes indicadores revelam é que as crianças estão cada vez mais preocupadas com o futuro, com o que vão ser e como vão ser, em idades cujas mentes deveriam estar unicamente voltadas a brincar e à descoberta prazerosa de cada novo dia. Ou seja, estão pulando etapas. Assustador, não é? Mas, pensando bem, não deveria nos surpreender. Elas absorvem e refletem o que percebem nos adultos.
A natureza tem uma lógica natural de seleção. Aprendemos desde a infância que os mais fortes sobrevivem, se adaptam. Mas andamos exagerando na dose. Na busca por sermos melhores, estamos no limite. Intolerantes com o fracasso, impacientes com o desacerto, desapontados com nós mesmos. Obsessivos, insones, transtornados. Furiosos com coisas banais e distraídos com um por de sol ou uma chuva no fim de tarde.
Esquecemos que a humanidade é falha, que o erro é parte do processo. Esperamos genialidade full time e não enxergamos que até os gênios não são geniais o tempo todo. Pelé teve milhares de chutes que não entraram. Bach jogou fora centenas de rascunhos com partituras que viraram cinza. Da Vinci gastou muita tinta e tempo em obras que nunca saíram de seu espaço de criação. Os grandes líderes empreendedores não cansam de repetir as tantas vezes que bateram a cabeça na parede e quebraram a cara e as finanças.
A mulher que não foi conquistada, o encontro que não aconteceu, aquela onda que não foi dropada, a foto que não foi tirada. O tempo que faltou para a família e as horas dedicadas em excesso para as redes sociais. Nos culpamos demais e nos torturamos demasiadamente com o que não deu certo. A busca pela perfeição não é um problema. Irresignar-se com a impossibilidade de alcançá-la é que é. Entretanto, deixemos isso para os adultos, que isso não é papo de criança.