A técnica de repetir uma mentira de forma incessante, a fim de que se torne verdade, tem inegavelmente produzido resultados bastante eficazes nos últimos anos em todo o país. Ao diplomata alemão Otto Von Bismarck, é atribuída uma frase bastante interessante sobre mentir. Segundo teria dito, “nunca se mente tanto quanto antes de uma eleição, durante uma guerra e depois de uma caçada”. Faz sentido, sem dúvida. Entretanto, hoje espalhar mentiras virou esporte praticado por muita gente, com ou sem intenção.
Notícias falsas sempre foram plantadas, como fofocas entre vizinhas. A diferença é que mecanismos como redes sociais aliados à telefonia móvel produzem um efeito de progressão geométrica na disseminação de algo absolutamente inverossímil. As eleições presidenciais do ano passado ainda serão objeto de diversos estudos acadêmicos a respeito da influência das informações repassadas de pessoas comuns para outras, sem filtros e mediações, replicando a agenda do que se discutia entre os candidatos. Especialistas em campanhas eleitorais garantem que um pleito no Brasil começa mesmo quando chega na mesa do boteco. Isso era antes…
E foi assim que cultura e arte foram parar no leque dos temas discutidos acerca dos rumos do país. No centro da mesa, a lei de incentivo à cultura que leva o nome do secretário nacional da pasta em 1991, quando sancionada pelo Presidente Collor, Sérgio Paulo Rouanet. Em suma, a legislação permite que artistas e produtores captem recursos privados para viabilizar os subsidiar espetáculos, filmes, discos, etc. Ou seja, ao invés de esperar que tudo venha do poder público, a lei (como o próprio nome diz) incentiva entidades privadas a fomentarem a cultura, recebendo em troca dedução fiscal e a possibilidade de vincularem suas marcas a estes projetos.
De acordo com dados do extinto Ministério da Cultura, nos últimos dez anos, mais de 32 mil projetos foram executados com suporte da lei. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas revelou que cada real investido através da Lei Rouanet trouxe um retorno de R$ 1,59 ao país, através da geração de emprego e renda. Um filme longa metragem, por exemplo, exige, além da contratação de atores, diretores e equipe técnica, diversos investimentos em figurino, alimentação, logística. Coisas que na sala do cinema não enxergamos.
Evidente que há distorções e exageros que precisam ser corrigidos. Afinal, um dos aspectos principais deveria ser auxiliar a quem precisa de mais oportunidades. Agora, essa coisa de execrar o mecanismo, com generalizações rasas e adjetivos politiqueiros e ideológicos, não ajuda em nada, colocando em risco o pouco que ainda conseguimos heroicamente produzir em arte e cultura no Brasil. A lei pode ser mudada. Mas não terminem com ela, por favor.