Do que as mães são capazes? Acredito que essa pergunta deva ter sido feita por todos nós em algum momento da vida. Foi o que me questionei esta semana, conhecendo a história da Dona Devercina. No dia 10 de julho de 1999, o filho, então com 9 anos de idade, saiu de bicicleta na praia de Imara, Imbé, para apagar as luzes de residências das quais a família tomava conta. Nunca mais foi visto. A bicicleta foi encontrada na beira de uma estrada. A investigação chegou a apontar um suspeito, mas o corpo do menino não foi encontrado e o Tribunal de Justiça entendeu que não havia materialidade suficiente para condenar alguém.
Na última semana, Devercina cadastrou o DNA em um banco de dados mundial, em mais um capítulo da luta para reencontrar o menino Bruno. A expectativa é de que se o garoto foi levado para outro país ou continente, por mais longínquo que seja, possa ser localizado a partir da comparação do material genético. Essa é mais uma tentativa, certamente não a última. E a cada nova chance, a esperança é renovada. Mais de 20 anos se passaram. Como estará Bruno? Onde? Passou fome, frio? Tem cabelos compridos? Se apaixonou?
Nestas duas décadas, a mãe ignorou a falta de respostas da polícia e, incansavelmente, saiu em busca de pistas do paradeiro do filho. Aprendeu a dirigir, para andar a esmo, sem técnica de investigação, apenas no instinto, esperando por um milagre talvez. Passou a usar a internet como ferramenta para pesquisar tudo que foi possível sobre o desaparecimento de crianças e como encontrá-las. “Enquanto Deus me der vida e força, vou lutar”, repete exaustivamente uma mulher corajosa, destemida, amorosa e paciente.
Jamais duvide de uma mãe. Nem tente convencê-la com argumentos racionais. Devercina, como todas, é incansável. Persistente. Resiliente. Onde quer que esteja, Bruno segue vivíssimo no coração da mãe. E não houve nenhuma destas mais de 7 mil noites em que ela não tenha sonhado com um abraço longo, o cheiro e a carícia de um reencontro. E ele virá, mais cedo ou mais tarde. Em algum lugar.