Sobrou até para os meninos do MBL, para o Amoedo, Dória, Lobão, a Raquel Sherazade e o Alexandre Frota. Quem ousa criticar o governo Bolsonaro vai para a fila da esquerda. Vira comunista. Os elogios e afagos de outrora ficam no passado. É na linha do “ame-o ou deixe-o”, como apregoavam os defensores do regime militar durante os anos de chumbo. O que o guru terraplanista disser vira lei. Ao lado da bíblia, os livros do guru são as referências. E o guru tem status de Deus.
O outro lado não é tão diferente assim. Quem repreende as condutas petistas, de Lula, Dilma e as práticas que amontoam condenações sucessivas é sumariamente rotulado, de forma parecida. Fascista, neoliberal, golpista. Bolsominion. Há fake news de cá e de lá. E, entre polos opostos, o Brasil vive um debate nível quinta série que não aprofunda, evolui, ou chega à conclusão que possa convergir diferenças em torno de um projeto de nação calcado em consensos mínimos.
Está fora de moda ter equilíbrio, ser sensato, prudente. Todos devem “ter posição”, em um extremo ou outro. Ser de centro é pecado. E nessa posição assumida deve-se defender até o indefensável. Ter lealdade mesmo diante do absurdo. Relativizar as bobagens verbais escatológicas e o desvio de recursos públicos. Paradoxalmente, nunca antes na história, houve tanto acesso democrático à informação e tantas pessoas fechando olhos e ouvidos para contrapontos, indispostas a prestar atenção no contraditório.
Cientistas sociais têm um prato cheio, ou uma bacia toda, para analisar, pesquisar e investigar as causas do aprofundamento dos radicalismos, da era dos extremos e de todas as contradições postas neste caldeirão. Em um cenário de tantas opções e diversidade, causa surpresa que a política tenha voltado ao reducionista espectro dividido entre direita e esquerda. É 8 ou 80. Tudo ou nada. Enquanto isso, sigo no meio, antiquado, chato e fora de moda.