A história é sempre contada e revisitada através das artes. O belo e os horrores são eternizados dessa forma, para que nunca nos esqueçamos do que deve ser admirado e do que jamais pode se repetir. Barbáries, como guerras e genocídios, ensejaram incontáveis obras literárias, parte delas adaptadas nas telas do cinema. O nazismo, por diversas razões, é um dos temas mais presentes em expressões artísticas que imortalizam um dos períodos mais vergonhosos de toda a humanidade, se é que humanidade e nazismo podem estar na mesma frase.
Entre os excelentes filmes sobre o regime de Hitler, “O pianista”, de Roman Polanski, impressiona pelo relato do que viveu Wladislaw Szpilman, um músico judeu que sobreviveu entre 1939 e 1945 no gueto de Varsóvia. A partir do livro escrito pelo próprio sobrevivente polonês, morto em 2000, Polanski brilhantemente traduziu o que é conviver com o horror, a fome, a distância de quem amamos e, ainda assim, nutrir esperança em seguir em frente. Há ainda outras obras fantásticas, como “A lista de Schindler”, de Spielberg, que também se baseia na real história do industrial alemão Oskar Schindler, que abrigou mais de 1.200 judeus durante o Holocausto.
Mas uma, em especial, eu acredito que seja capaz de tocar o coração até do mais resistente desalmado. “O menino do pijama listrado” é um livro publicado em 2006 pelo irlandês John Boyne, que virou filme dois anos depois. Em suma, o enredo versa sobre a amizade de dois meninos separados por uma tela. Um judeu, preso em um campo de concentração, torna-se próximo do filho de um oficial da SS. Em encontros às escondidas, são apenas duas crianças alheias à dor, zombando da vida e trocando afeto.
Foi disso que lembrei vendo as gangorras instaladas na fronteira entre os Estados Unidos e o México. Crianças sendo crianças, brincando separadas por uma enorme cerca. Essas crianças enxergam, nos semelhantes, apenas seres humanos. Negros, brancos, índios, latinos, nada disso importa. São, em essência, somente pessoas, brincando de gangorra. Ora em cima, ora embaixo. Elas não entendem por que estão em lados opostos, separadas. E nem precisam. Há coisas que é melhor não saber. Os adultos fazem muitas coisas inexplicáveis.