Eles têm razão

Acompanho de perto a política local há uns 20 anos, o que não é lá muito tempo, é claro. Mas desde o começo, foi possível perceber a repetição das pautas trazidas pelos homens do campo, no interior de Montenegro. Quem produz os alimentos que vão parar na nossa mesa e geram emprego e renda necessita de aportes e incentivos, de infraestrutura, como as chamadas redes trifásicas. Entretanto, há uma prioridade clara, que segue sendo motivo de descontentamento. Falo das estradas, de quem precisa de condições seguras e menos onerosas para escoar sua produção.
Esses agricultores que hoje protestam e pedem atenção do poder público estão estafados, cansados de não serem ouvidos. Não é o Kadu, não é esse governo. Trata-se de demandas históricas. Eles pagam impostos, eles acordam muito cedo, eles têm as mãos calejadas. Eles sofrem quando chove de mais ou de menos, quando tem geada, pestes, intempéries, granizo. Eles não sabem se terão saúde quando se aposentarem, se vão se aposentar. Eles estão mais distantes do perímetro urbano, do asfalto e excluídos da nossa visão. Muitas vezes, não são notados.
Também compreendo as razões do prefeito. O momento é de dificuldades financeiras, as contas estão apertadas, a arrecadação está em risco por conta de uma conjuntura nacional e internacional, e há pedidos aos borbotões. Não é uma questão de boa vontade, ou a chamada vontade política. Não há dinheiro para tudo. Então como é que fica? O que os agricultores fizeram na abertura da safra de citros foi exercício puro de cidadania. Eles precisam gritar para serem ouvidos. E a paciência, sabemos, tem limites. Ali era o momento da visibilidade. Sem agressões ou falta de educação. É possível ser duro sem perder a ternura, como disse Che.
Não dá para pedir paciência a quem espera por tantos anos. Contudo, tanto para prefeitura, quanto aos colonos, um exercício saudável é colocar-se no lugar do outro. Quando fazemos isso, a chance de diálogo e, em conseqüência, a resolução de conflitos e impasses cresce, aflora. A prefeitura tem sim as suas justificativas. Mas os produtores têm razão.

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