Coisa pública

Pois bem. O senador Romero Jucá protocolou (e depois “desprotocolou”) uma proposta de emenda constitucional que, em suma, protegia os presidentes das duas casas legislativas do país, barrando investigações sobre o período anterior ao mandato de quem estivesse na linha sucessória presidencial.

Na prática, salvando Rodrigo Maia e Eunício Oliveira. Nisso, não houve grande surpresa, vindo do autor. O que causou estranheza, sobretudo por estes pagos, é que a assinatura do gaúcho Lasier Martins constava entre as 29 que subscreviam a tal PEC. Questionado, o senador garantiu que assinou sem ler. “É que tinha assinaturas do PSDB e aí achei que era uma coisa séria”, disse o distraído parlamentar.

Tá bem. Eu acredito. Era perto do meio-dia, ele estava com pressa e, além do mais, admitiu que cometeu um erro. Mas sabe por que esse equívoco foi cometido? Para responder essa pergunta, pensemos em outras. Assinaria Lasier, o cidadão, uma procuração que por exemplo transferisse todos os seus bens para um terceiro, sem ter o cuidado de ler antes? Assinaria o advogado Lasier um documento que lhe fosse entregue, sem procurar antes saber do que exatamente se trata? E o comunicador Lasier, tiraria a caneta do bolso de supetão, diante de um posicionamento do sindicato dos jornalistas, hipoteticamente, defendendo a manutenção das emissoras públicas de radiodifusão?

Então, voltando à pergunta, sabe por que o Lasier assinou a PEC sem ler? Porque as coisas públicas infelizmente são relegadas a um segundo plano em ordem de importância. Porque nossos políticos, muitas vezes, não zelam pelo interesse público como fazem nas suas vidas privadas. As decisões no Congresso mudam a vida dos brasileiros. É lá que as leis que regem o país são propostas, discutidas, reformuladas. É coisa séria demais para assinar sem ler.

Eu não vou rotular o Lasier por isso. Seria exagerado e injusto. Assinar sem ler é um erro grave. Mas o triste mesmo é saber que isso não é exceção.

Eles não têm a dimensão do que fazem, dos cargos que ocupam. Estão distantes das ruas. Há um abismo entre os políticos brasileiros e a vida real.

Essa distinção de comportamento nas esferas pública e privada é prova disso. Precisamos de mais atenção com as assinaturas, nobre senador. Mas esse é o menor dos problemas.

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