Amado e odiado, ele divide opiniões, de quem já foi e até de quem nunca passou da porta. O Café Comercial é um dos mais emblemáticos espaços montenegrinos que ainda nos restam. O Café dos loucos, dos bêbados, dos madrugadores, dos trabalhadores, de quem acorda cedo e de quem dorme tarde. Lá não é lugar para água com açúcar ou comida sem sal. É 8 ou 80. É azul ou vermelho. O Café desperta paixões e repulsas. Só não se pode ser indiferente a ele.
Passei a frequentar o Café para encontrar o Cyro Müller. Todas as manhãs, lá estava ele. TODAS. No mesmo lugar, na mesma mesa e cadeira. Com recortes de jornais, ele dividia suas impressões sobre economia e em plena onda do pleno emprego e crescimento expressivo do PIB ele dizia. “Não tem como, pode saber, logo isso vai virar uma bolha”, dizia com seu habitual mau humor. Se ainda estivesse aqui, ele tiraria os recortes do bolso dizendo “eu falei, vocês não prestaram atenção”. Ele sabia das coisas. Antes dos outros.
Os irmãos Theisen e equipe se dividem sei lá como para dar conta de tudo. Trabalham muito, todos os dias. Atendem a turma dos que chegam às 06h. Depois, os moços da calçada, que passam a manhã tentando resolver boa parte dos problemas do mundo. Assim, passam por ali todos os sexos, cores, credos e raças ao longo do dia. Agora, finalmente as mulheres, capitaneadas pela Adriana Bandeira, descobriram o Café. Maravilha.
Para os mais chegados, o Café ainda é um dos raros lugares que resistem e mantém o caderninho, que anota as contas. Na ponta do lápis ou da caneta. Que confia na palavra. No fio do bigode.
O Café da política, da fofoca, de todos os partidos. Dos pastéis, pães de queijo. Do bolo inglês. Dos coxinhas e petralhas. De quem chega e de quem parte. Dos excluídos, abandonados, dos esquecidos, dos invisíveis. Da situação e da oposição. De quem fala e de quem ouve. O Café é parte da nossa história. Mas melhor não falar muito alto, senão vai pro chão…