A definição dos conceitos de esquerda e direita na política, tão exaustivamente repetidos nos dias de hoje, remonta ao fim do século XVIII, quando após a Revolução Francesa o parlamento era dividido, ficando os setores mais ligados a elite da época à direita, e os chamados “comuns”, à esquerda. Evidentemente, eles não se misturaram de propósito, para marcar a diferença mesmo. De lá para cá, muito foi escrito sobre os dois lados, ocorreram aplicações práticas pelo mundo e apesar de todas as mudanças sociais e tecnológicas deste período, ainda somos tão incrivelmente binários quando falamos sobre política.
Mas será mesmo que diante de tantas transformações que ocorreram nas relações humanas, estamos tão limitados a ser “uma coisa ou outra” como se falássemos de nossos braços ou pernas?Até bem pouco tempo, ser de direita no Brasil era um pecado mortal. Tanto é assim que raros eram os políticos que se assumiam como “direitistas”. A esquerda não, essa sempre teve orgulho de ser quem queria ser. Felizmente isso mudou. Sim, felizmente, porque triste da democracia forjada em um pensamento hegemônico. Hoje, a direita saiu do armário e nomes como Onyx, Bolsonaro, Heinze, Van Hattem, entre outros, não precisam ocultar de que lado estão. Bom para os eleitores. Fica mais transparente.
Na semana passada, um comerciante de Pelotas resolveu atalhar o caminho da justiça e matou dois homens que teriam assaltado seu estabelecimento horas antes. Ele foi atrás da ambulância onde estavam os supostos criminosos e atirou contra eles, sem chance de defesa. O fato demanda as mais profundas discussões, entretanto uma coisa parece evidente. A motivação tem duas razões claras: a total falência de um Estado incapaz de garantir segurança aos cidadãos e a incerteza de que a justiça estaria garantida, e os homens presos, dias depois.
No pensamento dualista e arcaico, um lado vai defender um Estado menor, mais enxuto e que apenas se limite a funções essenciais, como a própria segurança, por exemplo. O outro, prega exatamente o oposto, com uma estrutura estatal aparelhada para prover aquilo que o mercado não consegue distribuir em forma da chamada “justiça social”.
Em tempos de tanta intolerância e polarização extremada, somos cobrados a ter posição. Ser de centro ficou feio. O que é tão estranho se olharmos ao redor e ver que as possibilidades são tão enormes e por vezes ilimitadas. Será o caso de aceitarmos de vez nossa incapacidade de aglutinar pensamentos diferentes para uma construção coletiva de novos modelos e fórmulas? Penso que não. Espero ver cada vez mais a turma de um lado pulando para o outro, trocando ideias, construindo coisas em conjunto. Esquecendo diferenças. Lembrando do interesse coletivo. Talvez assim, casos como o de Pelotas não se repitam. E a barbárie não seja oficialmente institucionalizada.