Andando na contramão

Já escrevi isso sobre o presidente dos Estados Unidos, repetirei agora sobre o nosso. Não digam que Bolsonaro surpreende ou descumpre a palavra, enganando eleitores. Ele segue sendo o que sempre foi, de peito aberto, na cara e coragem. “Ai, mas de novo ele se preocupa com liberação de mais armas”, “ele se preocupa demais com a vida sexual alheia”, “ele só sabe brigar ao invés de conversar”, são algumas das frases repetidas por brasileiros desapontados com o chefe da nação. Mas esses sempre foram discursos e práticas adotadas de forma transparente por Jair, desde a chegada ao Congresso. E esse discurso foi legitimado por mais de 57 milhões de brasileiros, o que é o mais incrível.
Só que agora sim, ele decidiu ir além da conta no pacote de coisas pouco inteligentes (ele é presidente, então usarei de eufemismos). Dobrar o tempo de validade da carteira nacional de habilitação é bastante compreensível, uma vez que os motoristas já pagam altas taxas para dirigir e o processo de renovação é muito mais arrecadatório que de avaliação. Agora, dobrar o limite de pontos, afrouxar multas sobre o não uso das cadeirinhas para crianças e reduzir a gravidade da multa para quem pilotar motocicleta usando capacete sem viseira são iniciativas chocantes em um quadro de tantas vítimas no trânsito diariamente.
No fim da década de 90, no século passado, o Código de Trânsito Brasileiro estabeleceu mudanças importantes, com impactos significativos na cultura dos condutores. Entre as mais importantes, a proibição de dirigir após ingerir bebida alcoólica, rigor com limites de velocidade, limite de pontos na CNH, entre outros. O resultado é que, segundo dados do Ministério da Saúde, divulgados em 2018, o número de óbitos no trânsito entre as capitais brasileiras havia caído mais de 27% em relação aos seis anos anteriores ao levantamento. Entretanto, os números ainda são alarmantes. De acordo com o Sistema de Informações sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde, em 2016, último ano com as informações atualizadas, mais de 37 mil pessoas perderam a vida nas estradas e ruas do país.
Não é possível que o presidente não seja convencido por pessoas próximas, que torcem pelo seu sucesso, a recuar neste pacote non sense. Não se trata de mídia golpista, oposição comunista, Foro de São Paulo, esquerdopatas. NÃO! É apenas uma questão humanitária, de agir enquanto Estado para preservar vidas. Recuar não é feio, senhor presidente. É muito melhor que seguir na contramão.

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