Já escrevi diversas vezes sobre o meu amor por essa terra. Eu amo Montenegro como os personagens do Nelson Rodrigues, que se irritam, se rasgam, se revoltam, mas desejam fervorosamente. Minha paixão por essa cidade não arrefece, não perde o encanto. Ao contrário, só aumenta, sem crise dos 7, 14 ou dos 36 anos, que é o tempo que tenho de vida, sempre aqui entre o morro e o rio.
Falando em rio, que linda é a orla remodelada. Famílias passeando, gente de todas as cores, estilos e sexos convivendo em absoluta harmonia, curtindo o sol, a natureza e as coisas mais simples que por vezes se tornam imperceptíveis. Não há nada de tão extraordinário, exceto uma boa estrutura de luzes, segurança, arquibancadas, mirantes e pontos para contemplar o Guaíba. Sim, falo de Porto Alegre, mas por que não poderia ser aqui?
Novamente, há um trecho do nosso Porto das Laranjeiras que cedeu, o que abrevia um simples passeio pelo nosso cais. De acordo com análises de engenheiros que conhecem o local, outros pontos ainda podem ruir, reflexo de décadas de abandono e uma relação fria com o rio, somado a algumas ações irresponsáveis que danificaram o talude. Contudo, os montenegrinos são tão teimosos e irredutíveis que insistem em não sair de perto do velho Caí por nada. E seguem por lá, a vigiá-lo, com seus chimarrões, praticando exercícios, ou simplesmente trocando ideias enquanto contemplam o curso das águas.
Eu não sou arquiteto, nem urbanista, entretanto procuro conversar com estes profissionais para entender algumas coisas. E parece óbvio que, além do sonho de uma nova orla para nosso cais, é preciso um plano de ação, ousado, porém viável. Que comece com um conceito, um projeto que contemple diversas etapas, de modo a garantir sustentavelmente a captação de recursos a partir de verbas federais ou internacionais. Quem sabe um concurso público, para garantir que a escolha do projeto seja democrática e mais plural, legitimando-a. Vai levar tempo? Sim. Custa caro? Sim. É impossível? Há vários exemplos provando que não. Triste o povo que não consegue construir consensos mínimos. Mas pior ainda são os que perdem a capacidade de sonhar, por não acreditarem em si mesmos.